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sábado, 19 de março de 2011

Abusos, corte de vantagens e até violência física foram as causas da revolta em Jirau

Abusos, corte de vantagens e até violência física foram as causas da revolta em Jirau

Atualizada: Obras não serão mais retomadas nesta segunda-feira.

Da reportagem do TUDORONDONIA

Atualizada às 10h35

Porto Velho, Rondônia - Trabalhadores da Usina de Jirau que residem em Porto Velho disseram nesta sexta-feira à reportagem do TUDORONDONIA que a revolta no canteiro de obras da Camargo Corrêa e a explosão de violência no local são conseqüências de uma série de conflitos e abusos por parte da empresa contra os operários.

A briga entre trabalhadores e motoristas de uma empresa terceirizada foi apenas o estopim para a revolta, que era latente e ganhou intensidade com o corte de hora extra, adicional noturno, entre outras vantagens suprimidas do contra-cheque dos operários.

“Eu gosto de trabalhar na Camargo, mas ultimamente a situação tem ficado insustentável, com encarregados praticando assédio moral direto em cima da gente”, diz uma trabalhadora que mora em Porto Velho e foi chamada para prestar assistência na capital aos operários que saíram de Jirau após o quebra-quebra das instalações e incêndio de mais de 50 ônibus.

"Sai de lá corrida com medo da violência. Andei dez quilômeros até arrumar uma carona. No meio do caminho, só via gente que se achava o tal (encarregados) tirando a farda e jogando no meio do mato com medo de indetificação por parte dos 'foguinhos' - o pessoal que ateou fogo em tudo", acrescenta a trabalhadora.

Segundo ela, o pânico era generalizado e todo mundo gritava: "Tira a farda que eles querem pegar os encarregados! Por via das dúvidas, eu, mesmo não sendo chefe de nada, joguei a farda no mato e meti sebo nas canelas (correu)".

Além das questões trabalhistas e do assédio moral, a comida (péssima, na avaliação dos operários) é outro foco de discórdia. “A gente é proibido de trazer um vidro de pimenta para tentar mascarar o sabor da comida que, suspeita-se, sofre adição de salitre. A aparência é ruim e o sabor, pior ainda”, conta o operário Luiz, que, “por necessidade”, pretende continuar trabalhando na Camargo Corrêa. "O cardápio aqui é variado: sola de sapato (bife), boi ralado (carne moida), cobrão (peixe, tipo bagre, carregado no colorau), bife de 'zoião' (ovo), tudo preparado com 'capricho' pra ficar bem ruim mesmo. E o pior é que a gente paga por isso e não tem outra alternativa, pois estamos a vários quilômetros da cidade mais próxima", acrescenta.


“É bom que as pessoas saibam que, embora o clima de revolta fosse geral, apenas alguns 'peões' rodados participaram do quebra-quebra e dos incêndios. São pessoas aliciadas pela Camargo Corrêa em outros estados, com promessas de vantagens e mais vantagens. Brincar com peão é coisa perigosa. Essa gente é sem eira nem beira e não tem nada a perder, e deu no que deu. Todo mundo falava que isso ia acontecer. Inclusive tinha gente lá que sabia da intenção de tocar fogo em tudo, pois me contaram que já haviam feito isso em outras obras de outros estados”, relatou um encarregado.

Perguntado sobre a ação do Sindicato da Construção Civil para levar estas queixas à gerência da Camargo, o encarregado emendou: "É tudo um bando de pelego, vendido pra construtora. Esse povo perdeu a moral aqui, e se aparecesse no local na hora da revolta, teriamos sindicalistas enforcados e grelhados na brasa".

Todos pediram para não ter o nome citado na reportagem temendo algum tipo de represália por parte da empresa.
Há relato de casos de violência física por parte de funcionários da Camargo Corrêa contra operários, que relataram os fatos aos ministérios públicos Federal, Estadual e do Trabalho, que ouviram também queixas contra “os preços exorbitantes dos produtos no canteiro de obras”.

Os trabalhadores também reclamam do descumprimento de contrato trabalhistas em relação à folga a que têm direito a cada quatro meses de trabalho.

Numa reunião nesta sexa-feira com os ministérios públicos do Trabalho, Federal e Estadual, as reclamações contra a Camargo Corrêa mostraram que, diferente do que diz a empresa, as relações trabalhistas no canteiro de obras nunca foram normais.

Durante a reunião, trabalhadores e dirigentes sindicais relataram que havia crescente clima de insatisfação dos trabalhadores de Jirau com a empresa Camargo Corrêa por causa dos critérios de divisão da Participação nos Lucros (PL) realizada no final do ano, existência de violência física sofrida pelos empregados, atribuída aos funcionários da Camargo Corrêa; ocorrência de vencimento de “baixadas” (folgas de campo concedidas aos trabalhadores pela empresa a cada quatro meses de trabalho) e prática de preços exorbitantes dos produtos oferecidos aos trabalhadores pela empresa Camargo Corrêa.

Segundo eles, a insatisfação contribuiu para a crise que se instaurou na usina na terça-feira, dia 15 de março. A agressão de um trabalhador por três motoristas de ônibus foi o estopim para o início dos acontecimentos. Os trabalhadores solicitaram que as medidas trabalhistas que forem adotadas contemplem todas as empresas, inclusive as terceirizadas.

O consórcio Energia Sustentável do Brasil, responsável pelas construção da hidrelétrica de Jirau, informou que as obras continuarão paralisadas, diferente do que havia anunciado anteriormente quando divulgou que os trabalhos em Jirau reiniciariam nesta segunda-feira.

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19/03/2011 - 13h37min - Atualizado em 19/03/2011 - 13h37min
MPs investigarão também denúncias de violações de direitos dos operários em Jirau

MPs pedem segurança para trabalhadores e população, além de fiscalização sanitária em alojamentos.

Como ação do recém-instituído Comitê de Emergência, criado para impedir a violação de direitos decorrentes da crise na usina de Jirau, o Ministério Público de Rondônia (MP- RO), Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Trabalho expediram ofícios a diversos órgãos estaduais e federais para que fiscalizem as condições de higiene dos locais onde os operários foram alojados e garantam a ordem e integridade dos trabalhadores da hidrelétrica e da população de Porto Velho. Os integrantes dos MPs acompanharão a fiscalização sanitária aos abrigos ainda neste sábado (19).

A medida foi anunciada em entrevista coletiva à imprensa, realizada na sede do MPF, em que os membros dos Ministérios Públicos expuseram as ações adotadas pelas instituições antes e após a eclosão da crise na usina de Jirau. Um dos pontos abordados foi a elaboração de um Termo de Ajustamento de Conduta, proposto pelo MPT, que versa sobre direitos trabalhistas e o pagamento integral de salários, no período em que a obra estiver paralisada para todos os funcionários da usina, inclusive os de empresas terceirizadas. A expectativa é de que o Termo, que ainda não foi assinado pelos responsáveis por Jirau, seja firmado ainda neste sábado.

Durante a coletiva à imprensa, os integrantes dos MPs reiteraram que a atuação do grupo será voltada, em um primeiro momento, para a garantia de alojamento e alimentação dignos e decentes para os trabalhadores que permanecerem em Porto Velho; retorno adequado e o mais rápido possível dos trabalhadores para seus lares; garantia dos direitos trabalhistas; ressarcimento de bens e pertences pessoais dos trabalhadores perdidos nos incidentes. Na ocasião, relataram os compromissos feitos pela empresa, os quais estão sendo monitorados pelos Ministérios Públicos.

Investigação Ainda na coletiva, os membros dos MPs informaram que as circunstâncias que provocram a rebelião na hidrelétrica de Jirau serão investigadas, sob o ponto de vista criminal, trabalhista, de direitos humanos, de cidadania, de saúde, entre outras violações que possam ter ocorrido.

Concederam entrevista o procurador da República, Reginaldo Trindade, os promotores de Justiça Alexandre Santiago, Aluildo Leite, Hildon Chaves, o procurador-chefe do Trabalho, Francisco Cruz, e a Presidente do Tribunal Regional do Trabalho, Vania Abensur. Na coletiva, a desembargora relatou as ações do TRT em favor dos trabalhadores de Jirau.

Sesdec e Vigilância Sanitária Os ofícios dos Ministérios Públicos foram encaminhados à Secretaria de Estado de Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec); Polícia Militar; Corpo de Bombeiros; Polícia Rodoviária Federal; Polícia Federal; Força Nacional de Segurança e Agência Estadual de Vigilância Sanitária.

Com informações dos MPs: MPF,MPE-RO e MPT

Um comentário:

PABLO CALOR disse...

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