Infância Urgente

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Meu amor pelos temporais

Precisamos de ventos que arremessem
nossas naus nos mares de todo mundo
De ventos calamitosos, arrebatedores, que ventem corpos e almas
São ventos que precisamos

Precisamos de ventos que tragam raios e temporais
Daqueles que nos assustavam
E faziam nossos corações de criança dar saltos dentro do peito

Precisamos de ventos vendavais
Não e brisas comportadas que mal desalinhavam nossos penteados
Mas de furiosos ventos que arrastam estruturas
Demolem igrejas, destroem templos
Ventos que arrastam pensamentos, dissolvem idéias, solapam medos

Precisamos de ventos que tenham o cheiro de rosas de um certo abril português
Dos maios e das mães da praça
Ventos que levem as gaivotas para o deserto
E que tragam as areias do sertão para os palácios de governo

Precisamos de ventos parideiros
Que deles germinem revoltas e motins
Gargalhadas e o rufar de tambores dos obreiros argentinos
Que atravessem nossos ossos e arrombem grades e calabouços
Que destelhem os sótãos de nossas memórias e tragam à luz os diários
de nossas batalhas

Precisamos de ventos que sequem nossas lágrimas
Que levem às alturas as pipas de nossos meninos
Que mostrem aos homens que tudo que encobre pode ser arrancado
Que tudo que está pode partir no turbilhão
E que se ventar muito forte, mas muito forte mesmo
Seremos capazes de voar



Heitor Alves Pereira

2 comentários:

Anônimo disse...

Aprendi muito

Heitor Pereira disse...

Estava cá em meu canto com a tristeza do mundo, e de repente encontro esse poema parido em homenagem aos que lutam para mudar o mundo. Nesse corpo antigo meu coração de menino se alegrou, os ventos bons estão levando as palavras destiladas por minhas dores e alegrias.
Que sigam como esses bons ventos e ventem esperança e compaixão.
Heitor Pereira Alves Filho