Infância Urgente

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sobre o bolsa-aluguel

Sobre o bolsa-aluguel

“Aluguel-Social” ou “Tragédia Social”? – Parte I

Há tempos temos denunciado a farsa do chamado “aluguel-social” ou
“bolsa-aluguel”, um cheque-despejo disfarçado. Mas vale a pena pensar
melhor sobre isso que virou a base da “política habitacional” paulistana.

Como funciona o tal “bolsa-aluguel”?

Numa situação de despejo, em meio a uma série de ameaças, mentiras, e
agressões, feitas por assistentes sociais, funcionários da Defesa Civil,
policiais e outros membros do Estado contra a população pobre, em troca
das suas casas é apresentado aos moradores o “bolsa-aluguel”. “É pegar ou
largar”, dizem aqueles abutres.

Desesperadas, muitas pessoas acabam deixando seus tetos por um destino
incerto. Perdem vários vínculos sociais, se afastam de amigos, deixam de
contar com o apoio de vizinhos, tem todo o tipo de dificuldade para
conseguir a transferência de escola para seus filhos, que freqüentemente
acabam perdendo o ano escolar, e por ai vai.

O valor do bolsa-aluguel é baixo, geralmente 300 ou 400 reais, entregues
de 6 em 6 meses na forma de um cheque de 1800 ou 2400 reais. Além disso, a
notícia de que o “benefício” vai ser distribuído acaba causando duas
coisas: por um lado, um aumento dos roubos na comunidade; por outro, um
processo local de especulação, de modo que os preços das casas de aluguel
sobem às alturas, e ninguém mais acha um canto para alugar por esse valor.
E quem tem filhos sofre ainda mais, porque é quase impossível encontrar
algum proprietário que aceite uma família com mais de 2 crianças. Outra
coisa que os proprietários exigem são os dois ou três meses de depósito,
que o tal “aluguel-social” não prevê, e a família tem que se virar para
conseguir.

Apesar de haver situações em que nem isso ocorre, atualmente o
procedimento “normal” do Estado é fornecer um contrato de renovação
periódica do “bolsa-aluguel”, e uma promessa de inclusão da família em um
programa habitacional. Mas, geralmente, nesse contrato, não se fala nem
onde, nem quando serão construídas as novas moradias.

Todo mundo sabe que só na cidade de São Paulo existem milhões de pessoas
nas listas de espera dos programas habitacionais, que milhares de famílias
estão sendo despejadas todos os anos, e que só um punhadinho de casas está
sendo construída (punhadinho que é prometido para “Deus e todo mundo”, ano
após ano, como é o caso dos prédios na Mata Virgem, Divisa de Diadema). E
mesmo que a família tenha a sorte de ser uma das poucas escolhidas para
ocupar essas casas, teria ganho com isso uma grande dívida, e passaria
anos e anos e mais anos lutando para pagá-la, parcela por parcela, até ter
novamente um teto que é seu.

Nesse contexto todo de ameaças, mentiras, insegurança, isolamento,
desconfiança, humilhação, é evidente que temos um cenário ideal para
desgraças. Muitos entram em depressão, enlouquecem, se afundam no álcool e
noutras drogas, gastam o dinheiro do “auxílio” de um jeito inconseqüente,
e famílias inteiras acabam numa situação muito pior, vivendo de favor ou
nas ruas.

Longe de resolver o problema da habitação, esse problema é agravado, junto
com vários outros. Eis a realidade por detrás do “aluguel-social”…

Nenhum comentário: