Infância Urgente

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Todas as seis vítimas ouvidas testemunharam com muita precisão e detalhes os acontecimentos ocorridos em 2003

Por Brasil de Fato

23/02/2011

Egon Heck

Vanessa Ramos

Povo Guarani Grande Povos e Cimi

São Paulo

Antes de clarear o dia quase todos os Kaiowá Guarani já estão de pé. Alguns tomando chimarrão e arrumando a mala com os poucos pertences trazidos. Hora de fazer o ritual de despedida na aldeia dos parentes Guarani Mbyá, zona norte de São Paulo. No ônibus é o momento de fazer as pinturas no rosto e encher-se de coragem, força e alegria para mais um duro dia do julgamento.

“Estamos aqui pedindo justiça pelo assassinato do cacique líder Marcos Verón. Povos indígenas Kaiowá Guarani” são os dizeres das faixas que vão sendo colocadas e seguradas pelos membros da delegação indígena. Alguns repórteres já estão apostos e vão registrando o início de mais uma jornada.



No decorrer do segundo dia do julgamento os trabalhos fluíram com bastante tranqüilidade. Todas as seis vítimas ouvidas testemunharam com muita precisão e detalhes os acontecimentos ocorridos entre os dias 11 e 13 de janeiro de 2003. Impressiona como, depois de 9 anos, as testemunhas se referiam aos fatos como se “tivessem ocorrido ontem”, afirma Adelcia Martins Verón, cujo depoimento foi em Guarani com o tradutor Tonico Benites.

Foram mais de três horas em que ela não apenas narrou o que ocorreu naqueles dias como respondeu a todas as indagações: as dos Procuradores da acusação e dos advogados de defesa. O momento de maior emoção se deu quando a depoente chorou ao narrar o ataque dos fazendeiros e seus capatazes, que “fortemente armados”, agrediram brutalmente os Kaiowá acampados .

A platéia ora cheia – ora esvaziada, fez parte do cenário. Do lado esquerdo, os Kaiowá tiveram presença permanente. Na direita, os familiares dos réus e dos fazendeiros. Permeados nessa platéia estavam jornalistas e estudantes de direito, os quais se mostraram sensíveis aos parentes e testemunhas Kaiowá.

Atrás dos Procuradores de Acusação e dos advogados de defesa estão duas grandes fotografias de Marcos Verón, uma com pintura e outra sem, evidenciam o rosto e o olhar marcantes. As testemunhas depunham de frente ao retrato do cacique. Do lado das testemunhas, sentadas, estavam os três réus Carlos, Jorge e Estevão.

Um momento de tensão para as testemunhas foi quando a juíza Paola Mantovanni e os Procuradores de Acusação pediam que olhassem para o lado esquerdo e reconhecessem os acusados do assassinato. Algumas pessoas, no fundo da platéia, até mesmo se levantavam para acompanhar qual seria a resposta. Outros, comentavam o olhar de penumbra dos advogados de defesa.

No público, destacou-se a presença de Antônio Mendonça, do povo Xucuru de Ororubá que esteve em todos os momentos, desde o primeiro dia de julgamento. Ainda, no segundo dia, um grande grupo do povo Pankararé, acrescido da cacique Alaíde foram prestar solidariedade aos parentes. Alaíde estava comovida com a situação, inclusive por se lembrar de seu pai, Ângelo Pereira Xavier que na década de oitenta também foi violentamente assassinato em sua região, na Bahia.

Outra testemunha foi Geisabel Verón, filha de Marcos Verón, que relatou: “eu estava grávida e eles riam de nós”. Na ocasião de seu depoimento, olhou para os réus e apontou Jorge e Estevão como participantes do crime.

O jovem Reginaldo Verón, neto do cacique assassinado, chorou ao depor a cena da violência ocorrida com a comunidade e com o seu avô. Ele, atingido por uma bala relatou “até hoje sinto dor na perna. Eu era um atleta e acabaram com a minha vida. Hoje, mesmo sendo jovem eu não posso sequer praticar esporte porque a bala está alojada dentro do meu corpo”. No momento em que foi solicitado pela juíza para identificar os réus ele disse desconhecer. Depois, ao ser indagado pelo Procurador de Acusação se sentia medo, por ocasião do reconhecimento dos réus, ele disse: “Sim, estou com medo”.

Neste terceiro dia serão ouvidas importantes testemunhas de acusação, iniciando-se a seguir a oitiva das testemunhas de defesa.

A terra clama por justiça. A verdade vai prevalecer! A cada depoimento vão ficando mais claras as circunstâncias e autores das violências naquela madrugada do dia 12 de janeiro de 2003, com vários feridos, espancamentos e a morte do cacique Veron. Os representantes indígenas Kaiowá Guarani estão bastante tranqüilos e confiantes acompanhando atentamente o transcorrer do julgamento.

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INDIGENAS, POVO FORTE E LUTADOR, GUERREIROS DE FÉ E RAÇA, PARABÉNS POR SEREM QUEM SÃO

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