Infância Urgente

terça-feira, 29 de junho de 2010

Vou danado pra Catende! Vou danado pra Palmares!

Sou de uma cidadezinha do interior de Pernambuco, durante anos morando aqui em São Paulo, o meu desejo era que todos conhecessem a minha cidade, ao menos pudessem localiza-la geograficamente, mas toda vez que eu falava , tinha que citar o poema do poeta Ascenso Ferreira Trem de Alagôas:

O sino bate,
o condutor apita o apito,
Solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar…
                 - Vou danado pra Catende,
                 vou danado pra Catende,
                 vou danado pra Catende
                 com vontade de chegar...
Mergulham mocambos,
nos mangues molhados,
moleques, mulatos,
vêm vê-lo passar.
                 Adeus !
                 - Adeus !
Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar...
                 - Adeus morena do cabelo cacheado !
Mangabas maduras,
mamões amarelos,
mamões amarelos,
que amostram molengos
as mamas macias
pra a gente mamar
                 - Vou danado pra Catende,

                 vou danado pra Catende,
                 vou danado pra Catende
                 com vontade de chegar...
Na boca da mata
ha furnas incríveis
que em coisas terríveis
nos fazem pensar:
                 - Ali dorme o Pai-da-Mata
                 - Ali é a casa das caiporas
                 - Vou danado pra Catende,
                 vou danado pra Catende
                 vou danado pra Catende
                com vontade de chegar...
Meu Deus ! Já deixamos
a praia tão longe…
No entanto avistamos
bem perto outro mar...
Danou-se ! Se move,
se arqueia, faz onda...
Que nada ! É um partido
já bom de cortar...
                 - Vou danado pra Catende,
                vou danado pra Catende
                 vou danado pra Catende
                 com vontade de chegar...
Cana caiana,
cana rôxa,
cana fita,
cada qual a mais bonita,
todas boas de chupar...
      - Adeus morena do cabelo cacheado !
                - Ali dorme o Pai-da-Matta !
                - Ali é a casa das caiporas
                 - Vou danado pra Catende,
                 vou danado pra Catende
                 vou danado pra Catende
                 com vontade de chegar...

Mas geralmente poucas pessoas não conheciam, ai eu apelava (risos), pergutnavam se conheciam o Alceu Valença, a maioria das pessoas diziam que sim, nesse momento eu abusava do conhecimento da terra e falava que ele se lançou nacionalmente em 1975 com o Show “Vou danado pra Catende”:



Estava ali a minha vingança!

Catende foi uma cidade muito importante na Zona da Mata pernambucano e para a própria economia pernambucana. A cidade foi constituida a partir de uma Usina de cana-de-açúcar no século XIX, que ficava entre os estados de Pernambuco e Alagoas, e foi a maior usina da América Latina e foi a primeira usina de sucro-alcoleiro do Brasil. Isso a colocou em posição de destaque em um dado momento da história do estado de Pernambuco, já que sua sede ficava exatamente na cidade que herdou o nome da Usina.



Para o nome Catende existem duas versões: a corruptela de "Katendi" do africano que significa lagartixa, ou "Caatendi" do indígena, mato brilhante. Segundo alguns historiadores, esta última é a mais aceita.

Catende antes de se tornar cidade, foi distrito de Palmares, cidade polo em uma região de pequenas cidades.

Lembro da minha infância sem medos e neuras de violência, só do Papangú, Cumade Fulôzinha, Perna Cabeluda e outros seres do imaginário e cultura pernambucana, o meu trânsito sozinho (com 8,9, 10 anos )entre as cidades de Catende e Palmares, já que em Palmares eu tinha familiares e muitas das necessidades, tinham que ser resolvidos em Palmares.

Uma outra lembrança que eu tenho, que foi depois de vir morar em São Paulo, voltei depois de alguns anos para Catende e quando enxerguei os flamboyants vermelhos e amarelos, que florem a estrada entre Palmares e Catende, iniciei um “inexplicavel” choro copioso até chegar em Catende.



A região é uma cidade de muitos rios, Catende é cortada por três rios, Pirangi, Gameleira e Rio Una, este corta diversas cidades da região da Mata Sul.

Demorei para escrever algo sobre a situação que hoje se encontra a região, por sentir que ali naquele lugar alagado e aquelas pessoas, fazem parte da minha história e que é muito importante e cara para minha existência.

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