Infância Urgente

domingo, 4 de abril de 2010

Evasão escolar cresceu no ano passado

Roberto Alexandre
Domingo - 04/04/2010 - 08h52

Araçatuba - A evasão escolar é um problema que preocupa pais, educadores e gestores públicos de dezenas de cidades brasileiras. Em Araçatuba, ela vem crescendo a cada ano, conforme levantamento da Promotoria da Infância e Juventude. Somente em 2009, cerca de 800 adolescentes de 12 a 16 anos ficaram fora da escola durante o ano letivo. O índice de abandono escolar no ensino fundamental é o mais alto dos últimos cinco anos, segundo o promotor de Justiça Lindson Gimenes de Almeida.

Os dados são referentes à rede pública (municipal e estadual). De acordo com o promotor, o maior índice de evasão está na classe mais pobre da população. O Conselho Tutelar encaminhou, no dia 26 de março, ofício a vários órgãos municipais para que todos tomem conhecimento da atual realidade. Para o conselheiro tutelar Sérgio Calixto, autor do ofício, a evasão escolar deve ser combatida com urgência no município. "A situação realmente é preocupante", adverte.

Somente na semana passada, o Conselho Tutelar de Araçatuba foi informado sobre a evasão de 54 alunos de duas escolas estaduais. Atualmente com apenas quatro funcionários, o Conselho Tutelar não dispõe de efetivo para atuar diretamente nos casos de evasão.

Conforme Calixto, ocorrências de maus tratos, violência doméstica e negligência praticamente tomam todo o tempo disponível dos conselheiros. O Conselho Tutelar e a promotoria da Infância e Juventude são unânimes em afirmar que Araçatuba não possui atualmente nenhum projeto de combate direto à evasão escolar. "Precisamos mudar essa realidade", pondera o conselheiro tutelar.

De acordo com o promotor, Araçatuba nunca teve esse tipo de política. No ofício encaminhado a órgãos como o Comdica (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) e a Secretaria de Ação Social, Calixto chama a atenção para a importância da união de todos em torno do problema. Ele propôs a realização de encontros para que o assunto possa ser discutido.

Para o promotor Lindson Almeida, a evasão escolar ocorre por vários motivos, entre eles a desestrutura familiar e o avanço das drogas, principalmente o crack, entre os adolescentes. "Quando uma criança ou um adolescente conhece o mundo das drogas, ele perde o interesse na escola e acaba trocando os bancos escolares pelos bancos das praças." Para Calixto, o combate à evasão escolar necessita de investimento em diversas áreas sociais. Ele também acredita que as drogas tenham uma grande parcela de culpa por tirar os adolescente das salas de aula. "Mas como ter um combate eficiente à evasão escolar sem políticas de atendimento ao jovem dependente?".

Conforme ele, Araçatuba também não dispõe de instituições específicas para tratamento de crianças e adolescentes viciados em drogas. A Casa Dia, única entidade que atuava nessa área fechou as portas em dezembro do ano passado, segundo Calixto.

"MÃOS ATADAS"
Mesmo quem procura por ajuda não tem oportunidade de ser amparado por falta de estrutura de atendimento no município. Na semana passada, um adolescente de 16 anos procurou o Conselho Tutelar relatando que precisava de ajuda para deixar as drogas e as ruas. Dependente em crack, o menino é um exemplo de aluno que está fora da escola há pelo menos três anos. "Mas ficamos de mãos atadas por falta de um lugar que pudesse ampará-lo naquele momento." Sem solução para o problema, o adolescente voltou às ruas.

Projeto no RS resolveu problema

Quando for marcada a reunião para discutir a evasão escolar em Araçatuba, o conselheiro Sergio Calixto vai apresentar às autoridades um projeto que resolveu esse tipo de problema em Santa Maria (RS).

Professores, gestores públicos e representantes de entidades ligadas aos direitos da criança e do adolescente desenvolveram programas para identificar os problemas responsáveis pelo distanciamento do aluno. Os próprios estudantes eram estimulados a falar o motivo que o deixava longe das carteiras.

Os profissionais também passaram a levar os pais ou responsáveis pelos alunos às instituições para explicar a importância dos estudos formais e alertar quanto as penalidades pela não permanência dos filhos na escola (abandono intelectual).

Os pais de alunos com mais de dez faltas eram contatados, e a família passava a ser acompanhada de perto por grupos de profissionais criados especificamente para evitar a evasão. No ano de sua implantação, em 1997, o projeto conseguiu reduzir o índice de evasão escolar de 4,02% para 1,35%. Dois anos depois, não foi registrada evasão escolar no município, de aproximadamente 300 mil habitantes.

PESQUISA
Um estudo realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) enfatiza que é fundamental conscientizar os pais de que eles têm papel preponderante sobre os filhos, no que tange a estimulá-los a frequentar a escola, ressaltando a eles os benefícios oriundos do conteúdo que se aprende nela.

"Faltam ao pai de família e ao jovem estudante brasileiro tomar ciência do poder transformador da educação em suas vidas, como os altos impactos exercidos sobre empregabilidade, salário e saúde", diz a abordagem da FGV.

Fonte: Folha da Região

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