Recebi um comentário do jornalista João Leonel, de Fernandópolis, sobre o Toque de Recolher. Assim como publiquei a versão do juiz Evandro Pelarin, coloco a posição de Leonel abaixo. Outros comentários serão igualmente bem-vindos.
"Imaginemos uma cidade em que existem várias casas onde vivem adolescentes. Essas casas estão separadas das avenidas desta cidade por um alto muro. Estão separadas do mundo externo, do mundo real: o mundo 'lá de fora'. Entre o muro e o chão das casas juvenis há algumas frestas por onde passam finos feixes de luz, uma luz do exterior. As casas ficam na obscuridade quase que completa. Desde a implantação do Toque de Recolher nesta cidade, jovens adolescentes encontram-se ali, de costas para as avenidas, acorrentados sem poder mover a cabeça nem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo de suas casas, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior, nem a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos porque estão no escuro e imobilizados. O mito da caverna é uma das famosas parábolas escritas por Platão. A idéia consiste em pessoas que vivem numa caverna e acreditam que o mundo real é aquilo que aparece na parede: sombras formadas pela luz que entra pela única fresta existente. As pessoas lutam contra qualquer um que diga o contrário. Sou contra o Toque de Recolher, acho que numa cidade, como Fernandópolis por exemplo, onde não há políticas públicas capazes sequer de disponibilizar quadras poliesportivas em espaços públicos - uma seria bom, mas não existe nenhuma na cidade, nenhuma 'meu Rei', nenhuma - o Toque de recolher é somente repressivo. Se há problemas nas ruas, que esses problemas sejam sanados, sejam combatidos pela Polícia, pelo Estado. As ruas e avenidas de Fernandópolis não podem virar a 'luz lá de fora', e nossas crianças e adolescentes não podem ser subjugadas a viverem na 'escuridão da caverna'." - João Leonel
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