Infância Urgente

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Americanos presos alegam que tentavam salvar 33 crianças do Haiti

Dez religiosos americanos que foram presos ao tentar retirar 33 crianças do Haiti ilegalmente negam as acusações de tráfico e alegam que estavam apenas "seguindo os princípios cristãos" e tentando salvar as jovens vítimas, afetadas pelo terremoto de 7 graus ocorrido no último dia 12.

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Segundo a BBC, o grupo de dez americanos deverá comparecer a uma corte nesta segunda-feira em Porto Príncipe. Ontem, o secretário de Justiça do Haiti, Amarick Louis, disse que uma comissão decidiria hoje para determinar se os americanos seriam julgados.

Os detidos --que incluem membros da Igreja Batista de Meridian e Twin Falls (Idaho)-- dizem que queriam somente resgatar e auxiliar as crianças "abandonadas e traumatizadas".

"Em meio ao caos no Haiti neste momento, tentamos fazer a coisa certa", disse a porta-voz do grupo, Laura Silsby, na sede policial de Porto Príncipe, para onde os americanos detidos foram levados na sexta-feira (29), ao tentarem ir à República Dominicana com as crianças.

Silsby, 40, admitiu que eles não possuíam documentos haitianos para as crianças, cujos nomes estavam escritos em fitas pregadas nas camisetas. Com idades entre 2 meses e 12 anos, as crianças foram levadas a um orfanato do SOS Children, estabelecido pela Áustria. Segundo o porta-voz George Willeit, elas estavam "com muita fome e muita sede".

Um bebê de 2 meses estava desidratado e teve que ser hospitalizado, segundo ele.

"Uma menina de 8 anos gritava e dizia: 'Eu não sou órfã, eu ainda tenho meus pais'. Ela achava que ia para um acampamento de férias ou algo assim", afirmou Willeit

O SOS Children agora trabalha para devolver as crianças às suas famílias, em um esforço conjunto com o governo do Haiti, da ONU e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

De acordo com Willeit, um membro do grupo de religiosos havia passado algum tempo em Porto Príncipe para ganhar a confiança da população, antes que as crianças fossem levadas.

Indignação

O primeiro-ministro do Haiti, Max Bellerive, disse neste domingo que estava "ultrajado" com a tentativa do grupo de traficar as crianças, em um país que tem um longo histórico de interferência estrangeira.

No entanto, supostamente muitos pais no Haiti --o país mais pobre da América, que está em uma situação ainda mais precária depois do tremor, que destruiu grande parte de sua infra-estrutura-- preferem que seus filhos sejam levados para onde possam "viver melhor".

"Alguns pais já deram suas crianças a estrangeiros", disse Adonis Helman, 44, à Associated Press. "Eu estou pensando qual deles escolherei para dar, provavelmente o meu mais novo".

As crianças representam 45% da população haitiana e estão entre os grupos mais vulneráveis dos sobreviventes do terremoto do último dia 12.

Embora não haja um número oficial, a ONG Save The Children estima que haja 1 milhão de crianças órfãs, desacompanhadas ou que perderam ao menos um dos pais no terremoto. Muitas delas agora vagam nas ruas de Porto Príncipe em busca de comida e de algum familiar.

Jean-Claude Legrand, assessor de proteção da infância do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), disse na semana passada que o tráfico de crianças já existia no Haiti antes do terremoto, com vínculos com redes internacionais de adoção ilegal.

Os traficantes, contudo, aproveitam tragédias como o terremoto para roubar crianças que ficaram órfãs ou cujos parentes ainda não foram encontrados.

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