Ontem, dia 08 de fevereiro de 2010, no Morro da Coroa, no bairro do Catumbi, a polícia militar do Rio de Janeiro fez mais uma demonstração de como sua forma de atuação NÃO mudou, apesar do discurso que pretende legitimar a farsa das Unidades de Polícia Pacificadora: matou, agrediu, humilhou e roubou. Funcionando como mais uma facção criminosa, levou medo e terror através de uma incursão marcada pela obscuridade.
Era por volta das 17hs, quando a sequência de violações de direitos humanos teria início. Logo após, uma moradora contatou a Rede e alguns militantes foram até a Coroa. Segundo os moradores locais, havia várias equipes de policiais no morro, não sendo possível identificar o número exato do contingente. Uma dessas equipes mataria dois jovens, faria refém uma família, arrombaria várias casas, agrediria um morador, ofenderia e ameaçaria tantos outros. Esta equipe se dividiria, e uma parte dela se deslocaria para uma laje, numa das ruas da comunidade. Deste local, atirariam na direção de dois jovens, atingindo-os. Estes seriam arrastados, ainda com vida, pelas escadarias do morro, supostamente para serem socorridos. Foi possível perceber posteriomente que havia muitas manchas de sangue no chão, o que permite compreender que estes jovens foram arrastados. De acordo com informações que obtivemos, morreriam mais tarde no hospital. Os policiais registrariam as mortes como auto de resistência, apesar de os moradores afirmarem que não houve confronto, não havendo, portanto, a desculpa usualmente utilizada de legítima defesa.
A outra parte desta equipe estava próxima, mas na rua. Os policiais tentaram entrar em uma casa para pegar um jovem, mas a mãe deste estava próxima e não permitiu, afastando os policiais aos gritos. Após esta tentativa fracassada, arrombariam a porta de uma casa ao lado. Outro jovem, que se encontrava dormindo e estava de folga do trabalho, seria agredido e roubado. Ele nos relatou que acordou assustado com os tiros e resolveu verificar o que estava ocorrendo. Quando chegou na sala de sua casa, os policiais que destruíram a porta lá estavam e apontaram fuzis em sua direção. Eles diziam que viram alguém com o cabelo tingido de loiro correndo e que tinha entrado nesta casa. O jovem disse à eles que estava dormindo e que era trabalhador e que acordou assutado quando ouviu tiros. Porém, os policiais insistiam na versão contada por eles. Não fosse pelo fato de que este jovem não tinha o cabelo pintado e de que estava completamente trancado em casa, os policiais até estariam certos. Contudo, não foi o que ocorreu.
Após esse rápido diálogo, eles pediram os documentos do rapaz e puderam verificar que este era, de fato, um trabalhador. Mas isso não foi o suficiente. Os policiais roubariam os únicos dez reais que havia na carteira, arrancariam de seu braço uma pulseira, achando que fosse de prata, arremessando-a depois, ao verificarem que não possuia valor algum. Posteriormente, de forma violenta, puxariam o jovem pela fresta da porta arrombada, levando-o para fora. Qualquer um que tentava se aproximar era agressivamente afastado, ou com xingamentos ou através da ameaça do fuzil. Um senhor que estava indo em direção à sua casa seria impedido de continuar. Não bastasse isso, os policiais o reconheceriam como parente de Josenildo dos Santos, assassinado por PMs no ano passado na mesma comunidade. Neste momento, moradores que moram próximo começariam a gritar, acusando a arbitrariedade dos policiais e pedindo para que soltassem o jovem. Diante da insistência dos moradores, levaria-no para outra casa, que também seria arrombada. Lá, manteriam em cárcere privado toda a família, inclusive este jovem.
Como eram vários, outros policiais ainda entrariam em mais uma casa, desta vez, a dos familiares de Josenildo dos Santos. A irmã deste, que era uma das pessoas que mais gritavam para libertarem o jovem, seria agredida verbalmente, também sendo reconhecida como parente do trabalhador assassinado. Após tentarem intimidá-la e ameaça-la foram embora.
O jovem que estava mantido em cárcere privado com uma família seria agredido, inicalmente com um tapa e, em seguida, com um soco, ambos no rosto, que o deixaria com marcas e muitas dores. Os policiais ainda iriam revirar a casa deste. Importante lembrar que, neste momento, militantes da Rede estavam contatando diversas autoridades públicas e outras organizações de direitos humanos. O Ministério Público, a Comissão de Direitos Humanos da Alerj e o próprio Comando Geral da PM foram avisados. Coincidentemente ou não, logo após que estes contatos foram feitos, os policiais iriam embora, libertando a família mantida presa e o jovem agredido.
Militantes da Rede, que foram ao local, levariam o jovem para a 6DP para prestar queixa. Chegando lá, mais descasos. Esperariam três horas para que a ocorrência fosse feita. Além disso, alguns policiais envolvidos nas arbitrariedades estavam na delegacia, o que deixaria o jovem e sua mãe apreensivos. Estes policiais ficaram circulando o tempo todo pela delegacia e, em alguns momentos, tentavam intimidar os presentes. Depois de muito tempo, chegaria um inspetor que chamaria o jovem. Um fato estranho era que ele viria da rua e já sabia o nome do jovem. Quando os militantes presentes sugeriram que a mãe do rapaz fosse junto, o inspetor disse que “o resto pode ficar aí”, o que seria prontamente rechaçado. Após começar a conversar com o jovem e vendo que os presentes os observavam a conversa, resolveu levá-lo para a sala aonde estava o delegado. Lá, pelo o que nos foi relatado pelo próprio rapaz, o delegado tentaria fazer com que ele desistisse de fazer a denúncia.
Este é mais um exemplo de que a política do extermínio não foi interrompida, pelo contrário. A polícia fluminense ainda continua funcionando da mesma forma, espalhando medo e terror por onde passa. Além de matar, a polícia militar agride, ameaça, sequestra, ofende e rouba. Uma série de ilegalidades é cometida, mostrando que isso não seria apenas um simples “desvio de conduta”, mas expressa o modo de funcionamento desta instituição.
Rede de Comunidades e Movimentos contra Violência
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