Tatiana Pronin, editora do UOL Ciência e Saúde
Em São Paulo
Profissionais que atuam na atenção básica à saúde não são suficientemente preparados para atender o adolescente. Essa é a principal conclusão do livro “Juventude e Políticas Sociais no Brasil”, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta terça-feira.
Segundo os técnicos do Ipea, mais importante do que oferecer espaços específicos para esse público é capacitar os profissionais que fazem o atendimento primário à saúde da população de acordo com as necessidades específicas dos jovens. Além disso, é preciso haver articulação com outros setores, como o da educação, para se combater as altas taxas de mortalidade de adolescentes e adultos jovens por causas violentas.
Um dos pontos positivos citados na publicação é a evolução do monitoramento dos fatores de risco dessa faixa etária, que permitem fazer um retrato da saúde dos jovens brasileiros.
Raio-x
Na faixa etária de 15 a 29 anos, a taxa de mortalidade dos brasileiros jovens é significativamente maior no sexo masculino. Entre 2003 e 2005, na faixa dos 20 aos 24 anos, a taxa foi de 262 por 100 mil para os homens, contra 58 por 100 mil para as mulheres.
Dos 60 mil registros de mortes de homens entre 15 e 29 anos, no mesmo período, 46 mil (78%) foram por causas externas, principalmente homicídios e acidentes de transporte. As taxas também são mais expressivas para a população negra em relação à branca.
Enquanto a mortalidade é maior entre os rapazes, a grande maioria (81%) das internações no SUS (Sistema Único de Saúde) de jovens de 15 a 24 anos é de mulheres, segundo dados de 2006. A maior parte desses atendimentos (78,4%) tem relação com a gravidez.
Enquanto as lesões e envenenamentos são a principal causa de internação de homens jovens (taxa de 6,35 por mil), as ocorrências estão em sexto lugar para as mulheres (1,64 por mil). As internações por transtornos mentais também são mais frequentes no sexo masculino (1,55 por mil) do que no feminino (0,64 por mil). Já as doenças dos aparelhos genital e urinário são a segunda causa de internação de mulheres (4,92 por mil), mas estão apenas em sexto lugar para os homens (1,19 por mil).
Aids
Até 2005, o Brasil notificou 112 mil casos de Aids entre jovens de 15 a 29 anos, número que representa 30% do total de casos notificados desde o início da epidemia no início da década de 1980.
Entre adolescentes e adultos jovens, é notório o aumento da doença entre as mulheres. Atualmente, a proporção é de 1,1 homem para cada mulher com Aids, sendo que na população geral o índice é de 1,5 homem para cada mulher.
De acordo com o Ipea, as ações de prevenção no combate ao HIV e às DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) aumentaram o conhecimento desse público sobre a importância do uso de preservativos. Prova disso é que 53% dos jovens entre 16 e 25 anos afirmaram ter usado camisinha na primeira relação sexual e, 2007, enquanto que em 1998 a proporção era de 49% e, em 1986, de apenas 9%.
A publicação, no entanto, menciona a resistência quanto à distribuição de preservativos em ambiente escolar. Segundo o Censo Escolar de 2005, 60,4% das instituições de educação básica realizam ações de prevenção em DST/Aids, sendo que, destas, apenas 9,1% distribuem camisinhas. O desafio, diz o livro, é ampliar a cobertura para toda a rede de ensino fundamental e médio.
Fatores de risco
O Ipea também analisou os fatores de risco ou proteção para doenças crônicas não transmissíveis entre os jovens, como o fumo, o sedentarismo e o consumo de álcool, com base nos dados do Vigitel (Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), implementado pelo Ministério da Saúde em 2006.
Os dados indicam que o percentual de fumantes na faixa entre 18 e 29 anos é de 14,5%, um pouco abaixo da prevalência encontrada na população com 18 anos ou mais, que é de 16,2%. O instituto ressalta o percentual de ex-fumantes nesse grupo etário, de 13%, que significa que cerca de 30% dos jovens já tiveram contato com o fumo.
A proporção de jovens que consomem bebida alcoólica é outro dado preocupante: o percentual é de 20,8%, maior que o observado para a população adulta, de 16,1%. Dados do Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) também indicam que 41,2% dos estudantes da rede pública com 10 a 12 anos já fizeram uso de álcool.
Já a prática de atividade física é um pouco mais frequente na população de 18 a 29 anos (17,3%, contra 14,9% dos indivíduos com 18 anos e mais), segundo o Vigitel. Os menos sedentários são os homens com idade entre 18 e 24 anos e entre os de maior escolaridade.
O percentual de jovens com excesso de peso (26,5%) também é menor que o da população adulta (43%). Assim como no caso dos indivíduos com 18 anos ou mais, a proporção é maior entre os homens. O percentual de indivíduos com obesidade na faixa dos 18 a 29 anos é de 5,9%, enquanto que na população com 18 ou mais é de 11,4%.
Iniciativas positivas
O Ipea menciona que, apesar de não haver uma política nacional aprovada para a promoção da saúde dos adolescentes, algumas iniciativas têm sido implementadas, como o projeto Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), de 2003, a regulação das práticas alimentares saudáveis no ambiente escolar pela Portaria nº 1.010, em 2006, a criação do Cartão do Adolescente (registro sobre consultas e fatores de risco), em 2008, e a expansão de redes de atenção às jovens em situação de violência.
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