Infância Urgente

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Rezemos pelo Haiti...

Temo sempre falar em meu blog de assuntos que a mídia pauta, mesmo aqueles que considero importantes tratar, quando o faço, tento sempre buscar um equilíbrio que raramente encontramos nos tais telejornais, revistas ou jornais da grande mídia.

A primeira imagem que me chamou atenção, foi a declaração do Cônsul do Haiti no Brasil Jorge Samuel, um branco representando um país majoritariamente negro, essa representação por si só, já nos traria uma boa análise sociológica, mas a fala que foi gravada, quando ele falava em “off”, qual é o olhar de quem representa o país e o que pensa a elite branca mundial sobre o Haiti! Ele nessa conversa "informal", atribuía aos cultos haitianos de tradição africana, a responsabilidade pelas suas desgraças!

Outra situação curiosa, que não tem como desprezar tal o número de matérias, é o da morte da médica brasileira Zilda Arns, Mulher (mãe) Branca(redentora), que desenvolve trabalho assistencialista no Brasil e em alguns países, que morreu durante a tragédia no país, que pode passar dos 200 mil negros, justamente a morte dessa mulher branca conservadora é que tem prevalecido! Não tem como se perguntar, porque esse apelo todo? E não tentar responder, que tem motivações da elite branca mundial e a brasileira em especial.


O Brasil na fase Lulista, que é o cara, já "ganhou" de tudo no cenário internacional, copa, olimpíadas, notoriedade etc. Agora, precisa ganhar uma Santa, no lugar aonde perdeu e perdeu feio, com a sua desastrosa intervenção militar a mando dos estadunidenses, que é nessa ilha, cheia de negros “macumbeiros” (como falou o Cônsul haitiano) que ousaram ser livres e cultuar seus ritos ancestrais, levando-os a carregar uma maldição indissociável a sua existência, a não ser que tenham uma Santa branca (claro!), mártir do assistencialismo e que estava ali para cumprir a saga do santo, morrer se doando!


Assim, em breve, toda a desgraça ocorrida no Haiti, aos poucos irá se dissipando da mídia, durante algum tempo teremos aqui e ali flashes esporádicos, uma notícia aqui e ali por obrigação, suas vidas desgraçadas continuarão, talvez a seleção brasileira vá lá a mando do presidente para "solidarizar-se" e os haitianos depois de assistir “seus” ídolos, voltarão a cumprir a sua sina.


Um belo dia, veremos o Haiti tomar a mídia nacional novamente pela mãos da grande mártir, que deu sua vida pelo povo haitiano, sendo indicada para o Nobel da Paz pós sua morte e ganhando evidentemente e logo em seguida, o Vaticano iniciando o processo de santificação daquela mulher branca e pura, seguidora da religião de tradição judaico-cristã, redentora da humanidade e dos povos impuros, que foi limpar os haitianos de sua maldição, que acabou tendo as suas vidas ceifadas lentamente pelo mal que lhes assola, porém, essa mulher, voltará ao país redimindo-lhes de seu mal, como sua grande padroeira, quando eles poderão em caravana ir até a igreja erguida em sua homenagem, para receber os fieis que serão purificados e espalharão pelo país o caminho da purificação e superação de seu mal.

Esqueceremos assim, aquele país do povo que ousou desafiar a ordem burguesa, que apavorou a elite branca mundial a mais de 200 anos, quando se rebelaram contra escravidão arrancando os seus grilhões e expulsando seus opressores brancos e se autodeterminado como um povo livre.

Esqueceremos que essa ousadia custou muitas invasões dos inconformados senhores donos do mundo, que não cansaram de invadir a ilha para retomar a ilha e impor a mais cruel forma de dominação humana, a escravidão, dividindo-o (Haiti e Republica Domicana) para dominar , ocupando como o fez os Estados Unidos em duas ocasiões, ou tendo presidentes fantoches ( Papa e Baby Doc ) e fiéis aos interesses estadunidenses.
Esqueceremos principalmente, que somos nós (brasileiros) que ocupamos o Haiti, a pretexto de civilizar os negrinhos abusados que não sabem escolher presidentes, tendo imposto as maiores crueldades, com a nossa visão sub-imperialista ou fazendo o trabalho sujo dos senhores do norte, que expulsaram o seu presidente mal.

Esqueçamos tudo isso e Rezemos pelo Haiti, para que esse povo impuro pare com suas “macumbas”, esqueçam a sua grandeza e ousadia na história e que nada de mal mais lhes acontecerá...

4 comentários:

Unknown disse...

Giva, vejo que essa situação que o povo negro vive é degradante e humilhante. No entanto, vejo que não podemos fazer com os brancos o que eles fazem com os negros.

A morte de Zilda, de Zé ou de João, possuem a mesma importancia. Não podendo ser esquecidas pelos homens, sejam eles brancos, negros ou amarelos.

Pois cor da pele não diz se uma pessoa é boa ou ruim. Aliais cor da pelo...foda-se!!!!

Abraços,
Johnny W. Cruz Borges
http://twitter.com/JohnnyWCB

Mandinha disse...

Olá Giva!

Estou muito abalada com td que tenho visto sobre a situação do Haiti e realmente se esperarmos da mídia uma noticiação crítica morreremos sentados, por isso gostei muito de suas colocações no sentido de refletir e demonstrar sua indignação sobre o q vem acontecendo: as coisas que a mídia canoniza e o que ela mascara.
Sinto me de mãos atadas e fico pensando revoltada (PQP!!!!Como vivo num país que envia soldados a outra nação, a "mando" de uma potência FDP, que usa um discurso de pacificadora, quando na verdade é uma aproveitadora mundial?E o pior, eu nem concordo com isso!!!!!!!
Bom, não sei o que posso fazer, mas gostaria de fazer algo, por enquanto deixo registrada aqui a minha indignação e encaminharei para minhas listas de contato esta discussão.

Pensemos no Haiti, talvez pudesse ser o Brasil!(se fosse mais corajoso)

Mandinha disse...

Concordo com Johnny na sua colocação quanto ao tratamento as pessoas brancas e negras, realmente as mortes tem a mesma importância e foda-se a cor da pele!
Mas, temos que reconhecer que a mídia deu enfase a morte de Zilda e que daqui a pouco, certamente, ela será glorificada (e quantas pessoas a glorificarão, agora fica a pergunta: Quantas pessoas manifestam seu repúdio a situação de miséria e sofrimento não só do Haiti, mas do mundo? Agora que é o assunto do momento podem aparecer muitas, mas o tempo vai passar e isso irá se perder e se ninguém lembrar talvez seja escrito na História o heroísmo dos brancos, mas não o sofrimento dos negros!

Gilson Reis disse...

Olá Giva.
O seu texto colabora para confirmar o quanto boas ou más ações nao dependem da cor. Conhecendo pouco da atuação não assistencialista da Zilda Arns chego a esta conclusão.
Tendo-o como um dos militantes mais inteligentes que já conheci, permita-me perguntar, ainda que seja obvio: Você conhece a historia da Pastoral da Criança? Como vc foi ofensivo a uma "branca" que me parece tao sensivel às causas da Infancia! Ela está em que nível na tua classificação de hipócritas, corruptos e carrascos do nosso país?
Abraço
Gilson Reis