Infância Urgente

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Nota da Rede sobre a reportagem de "O Globo" de 17/06/2008

Em sua edição de 17/06/2008 o jornal "O Globo" traz uma reportagem sobre a manifestação de moradores da Providência, no dia anterior, em frente ao Comando Militar do Leste, que se seguiu ao enterro dos três jovens seqüestrados e mortos no dia 14/06/2008. Militantes da Rede estavam presentes à manifestação, e podemos afirmar que a maior parte da reportagem reflete o que realmente aconteceu. Entretanto, em determinado parágrafo afirma a reportagem:


"Manifestantes acusaram integrantes do grupo Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, tido como radical, de terem começado a atirar pedras contra os militares, o que iniciou o confronto, que se estendeu por quase 20 minutos. Um carro foi depredado. Um integrante do grupo foi detido numa segunda tentativa de protesto, por volta das 19h, na rua situada nos fundos da Central."

Antes de tudo, queremos lembrar que "O Globo" tem pleno acesso e conhecimento sobre a Rede, procura-nos sistematicamente para entrevistas e reportagens. Aliás, uma declaração de um militante da Rede, plenamente identificado como tal, foi publicada na edição de 16/06/2008, dentro da cobertura, por sinal muita precisa, sobre o caso da Providência. Um jornalista que se apresentou como de "O Globo" também conversou longamente com um membro da Rede dentro da 4a DP, na noite do próprio dia 16/06, quando buscávamos a liberação de outro ativista detido injustamente por "desacato" enquanto se manifestava pacificamente numa rua próxima à Central. Em nenhum momento, entretanto, este suposto jornalista perguntou-nos sobre a acusação publicada.

Ou seja, se é verdade que "manifestantes" (não identificados pela reportagem) nos acusaram conforme publicado, deveria ser obrigação da reportagem do jornal nos procurar e conhecer nossa versão, como mandam as normas do bom jornalismo. Isso, entretanto, não foi feito, caracterizando parcialidade e intencionalidade por parte do jornal. Como não tivemos oportunidade de fazê-lo no mesmo espaço, como seria correto, vamos prestar nossos esclarecimentos agora:

A Rede acompanha e apóia a mobilização da comunidade da Providência contra a violência policial e militar há muito tempo, tendo veiculado diversas denúncias em nosso site e em órgãos da imprensa. Também esteve por três vezes, desde 2006, com o Ministério Público Estadual na comunidade, com o mesmo objetivo de ouvir e encaminhar denúncias. Participamos de várias reuniões e manifestações da comunidade, numa delas, inclusive, na Central do Brasil, uma militante da Rede foi ameaçada pelo comandante do 5o BPM, o que gerou uma queixa por parte dela na 4a DP e um processo contra o comandante.

No dia 16/06, militantes da Rede acompanhavam o enterro dos três jovens no cemitério São João Batista, e avisaram aos demais que haveria manifestação em frente ao CML, por decisão da própria comunidade. Avisamos ativistas e militantes da Rede e de outros movimentos, e nos dirigimos para o local portando três faixas (uma delas fotografada e publicada na reportagem de "O Globo"), para manifestar nossa solidariedade à comunidade e sua luta.

No momento do início dos confrontos (que não temos certeza como começaram), os poucos militantes da Rede presentes encontravam-se segurando as faixas, como pode ser comprovado pelas fotos e imagens feitas pelos diversos fotógrafos e cinegrafistas presentes. Com o início da repressão pelos soldados, saímos correndo fugindo das bombas como todos que lá estavam. Só conseguimos nos reagrupar, junto com populares, na altura da Rua Senador Pompeu, onde participamos de nova manifestação espontânea e totalmente pacífica, que durou pelo menos 30 minutos, até a PM agir com truculência, espalhando cacetadas e gás de pimenta, e detendo injustamente três pessoas por "desacato", entre elas dois ativistas de movimentos sociais que ali se encontravam avisados pela Rede. As três pessoas prestaram depoimento na 4a DP, acompanhadas por uma Defensora Pública, e foram liberadas.

Esses são os fatos. Não sabemos quais são os supostos "manifestantes" que nos acusaram segundo a reportagem. Mas, repetimos, "O Globo" teria plenas condições de contactar-nos, averiguar nossa versão e publicá-la na mesma reportagem onde publicou as acusações.

Encaminharemos esta nota a "O Globo" solicitando publicação. Caso não sejamos atendidos, estudaremos a possibilidade de processar judicialmente o jornal, o que não nos agradaria, porque, por mais que discordemos de sua linha editorial e a critiquemos publicamente, reconhecemos que neste caso recente da Providência tem cumprido um papel de informar a população sobre as arbitrariedades e crimes cometidos pelo exército na comunidade.

Rio de Janeiro, 19 de Junho de 2008.

Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência

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