Infância Urgente

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Velha/Nova Febem/Fundação Casa 28


Próximo do Natal de 2007 dois adolescentes um de 14 e outro de 15 e um adulto de 39 anos, saíram para fazer um "fita", a idéia era roubar um carro e ter dinheiro para para o fim do ano. R.A era o adolescente de 15 anos à época, que acabou sendo voto vencido quando os outros dois companheiros decidiram levar o dono do carro até um caixa de banco para sacar dinheiro, já que o combinado era só o carro. Chegando lá a senha não estava correta e então decidiram abastecer o carro quando a policia chegou e os 3 foram presos, R.A. estava com a arma na mão.

R.A, que havia saído de casa , precisava ajudar a família do outro adolescente, estava lá na casa dele e não queria fazer feio se arrepende do que fez, faz uma auto-critica por não ter escutados seus pais. R.A. passou um ano na instituição que marcou definitivamente a sua vida, literalmente sobreviveu no inferno.

A Febem que mudou de nome(Fundação Casa) , mas em nada na concepção da politica é fruto de uma mentalidade atrasada e criminosa de trato com adolescentes autores de ato infracional e tem sido desenvolvida a mais de 3 décadas em nosso estado, sem se preocupar para o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu . Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece o Título V do Livro II. Depois de 18 anos da Lei aprovada nada mudou e assistimos estarrecidos uma sucessiva onda de violações intermináveis, tendo os jovens que ali estão e que por ali passaram tendo suas vidas comprometidas.

Em solidariedade aos amigos que fez na FEBEM e ainda estavam na instituição R.A tinha necessidade de saber o que estava acontecendo com os manos, foi ao buscador google e colocou o nome Febem e acabou encontrando o blog Infância Urgente, leu as matérias sobre a Febem, se reconheceu e decidiu entrar em contato com esse blogueiro. Como disponibilizo meus contatos, inclusive msn , ele me adicionou e começamos uma conversa, certifiquei-me da sua história e propus uma entrevista, pois sentia que ele tinha necessidade de falar sobre o que passou na instituição.

Giva:Como foi a sua chegada na FEBEM?

R.A. Quando cheguei lá eu tinha muito medo, porque apanhei muito da Policia Civil. Fomos para Unidade de atendimento Inicial(UAI) no Brás, entramos , assinamos uns papéis e mandaram que agente tirasse a roupa , ficamos pelados e mandaram pagar Canguru (subir e descer totalmente pelado varias vezes), nos deram uma roupa de lá e um saco para agente guardar nossas coisas . Chegamos tarde, tomamos um banho e fomos jantar , o meu companheiro pediu licença a rapaziada da mesa, foi então que quatro funcionários pegaram ele e começaram a bater , batiam na barriga dele para não deixar marcas, eu tinha vontade de avançar neles, eles mandaram todos baixar a cabeça.

Giva:Fale como foi a sua vida na instituição.

R.A. Fui depois de 3 dias para a Unidade de Internação Provisória (UIP) 9 que fica também no Brás . Lá podíamos conversar, tinha hora que também podíamos fumar. Apanhei duas vezes e me falaram se eu falasse para alguém fariam com que eu assinasse vários B.Os, fiquei algumas vezes de costas para a parede durante muito tempo. Tínhamos o tempo todo que andar de cabeça baixa e mão pra trás, o tempo todo tínhamos que pedir licença aos funcionários e só responder "sim senhor" e "não senhor" .


Giva: Me fale como foram os espancamentos que você sofreu e qual era o motivo alegado?

R.A. Uma das vezes eu estava lendo e o funcionário apagou a luz e eu resmunguei baixinho ele falou que ouviu e me bateu a minha cabeça na parede eu cai no chão quase desmaiado.Depois ele me levou a sala da coordenação e ele e o coordenador me bateram muito!Eles me eu caído no chão, chutavam e falavam " Você não é bandido!?Levanta!". Eles ficavam me chutando e pisando, depois mandaram eu lavar o rosto e avisaram se eu falasse para o moleque do meu quarto iriam me quebrar mais ainda e me colocariam na tranca por 1 mês.

Fui transferido um tempo depois para Unidade de Internação (UI) 34 também no Brás, eu estava na sala de aula e um camarada da minha região me chamou e começamos a conversar . O funcionário mandou eu ficar quieto e ai o moleque começou a debater com ele , o funcionário levou os dois então na coordenação, primeiro o moleque entrou e depois eu. Quando eu estava falando com um funcionário(junior) o outro funcionário( Caio) me deu uma porrada no estômago, fiquei cuspindo sangue por mais de 3 semanas, me levaram na enfermaria e manaram eu falar que foi uma bola.

Giva: Na enfermaria não desconfiaram? E as técnicas (pisicologa(o) e assistente social) ?

R.A. Eles são pau mandados da direção. Dos técnicos lá só tinha uma que logo tiraram ela.


Giva: Você viu muitos adolescentes sendo espancados lá?

R.A. Na UIP 9, cheguei a ver sangue no teto. Em Dezembro de 2006 teve tumulto lá, vi muitos moleques com a costela quebrada. Na UI 34 vi muitos espancamentos, tinha um moleque que era seguro(estava ameaçado por outros adolescentes), era seguro lá em Franco da Rocha e foi transferido para lá, os funcionários batiam nele quase todos os dias, ele tomava remédio tarja preta.

Os médicos lá mandavam as enfermeira fazer agente tomar esses remédios para ficar calmo.

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