SÃO PAULO - O Nordeste e o Sul são as regiões do país onde há mais pontos vulneráveis de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais brasileiras pois são regiões de grande fluxo de transferência e transporte de riqueza, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Segundo estudo da PRF e da ONG Childhood Brasil, lançado nesta quarta-feira, o Paraná e a Bahia são os estados com maior quantidade desses pontos. No Brasil, são 1820.
- Existem diferenças sociais nos centros urbanos, fluxos de veículos, transporte de riquezas. O Nordeste tem isso nitidamente, do litoral para o sertão e para o agreste, essa diferença social nítida. E o Sul tem a diferença social do Brasil para os países vizinhos. As riquezas do Brasil escoam para o Mercosul através das rodovias do Sul - disse o chefe de comunicação da PRF, Alexandre Castilho.
A densidade populacional e da malha rodoviária também explica a localização dos pontos vulneráveis, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal.
Segundo a PRF, os locais mais vulneráveis para a exploração sexual infantil ficam em ambientes urbanos (67,5%), iluminados (79,5%), onde há consumo de bebida alcoólica (81,9%), com grande presença de caminhoneiros (76,1%), onde não há atuação de conselhos tutelares (73,6%), nem de vigilância privada (69,5%) e onde adultos se prostituem (69,3%).
A diretora executiva da Childhood Brasil, Ana Maria Drummond, elogia as políticas públicas brasileiras para combater a exploração sexual infantil, mas acredita que falta integração dos órgãos governamentais nos locais onde o problema acontece.
- Falta promover a integração dos esforços. A articulação tem que ser no terreno onde acontecem os problemas. A criança que foi explorada tem que contar oito vexes a sua história, não há integração dos serviços, da assistência social, da saúde. A rede de proteção não pode ser uma coisa etérea - disse Ana Maria.
Para a oficial de programação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Thaís Dumêt, o Brasil vem avançando na proteção às crianças, mas ainda há muito para ser feito.
- O Brasil tem priorizado o tema da infância, a gente vem tendo um avanço grande de políticas públicas. Mas ainda tem muito o que avançar. Tem que mobilizar a sociedade e conhecer melhor a realidade de outras regiões, como as hidrovias do Norte - afirma Thaís.
O chefe de divisão do combate ao crime da PRF, inspetor Moisés Dionísio, afirma que a maior dificuldade encontrada no combate à exploração sexual infantil está relacionada à falta de conhecimento e engajamento da sociedade.
- Às vezes a sociedade não sabe que tem o Disque 100 para denunciar a exploração, ou não tem interesse, ou não sabe que tem Conselhos Tutelares que ajudam. Ou por uma questão cultural, acham que quem está ali (sendo explorada sexualmente) é uma mulher, não é uma criança ou adolescente - afirma Dionísio.
O Coordenador da Central de Atendimento do Disque Denúncia da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Joacy Pinheiro, afirma que o governo federal vem trabalhando para combater o problema, mobilizando a sociedade e outros órgãos do governo.
Marcelle Ribeiro - O Globo
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