Infância Urgente

domingo, 31 de outubro de 2010

Síndrome da Alienação Eleitoral e o fim de uma era



Em Novembro de 2009, as eleições ainda estavam esquentando os motores, mas as pesquisas eleitorais apontavam que o candidato do PSDB , José Serra tinha mais que o dobro de votos da candidata do Lula/PT a presidente, Dilma Rousseff, as pesquisas naquela ocasião em nada representava o sentimento dos brasileiros. 

Em algumas viagens que eu faço, sempre fiz questão de ouvir o Brasil real, o Brasil real me dizia uma outra coisa, ninguém sabia quem era o Serra e todos votariam em quem Lula mandasse, logo, as pesquisas não dialogavam com esse Brasil lulista, dialogavam com a lembrança de nomes, coisa que o nome da candidata do Lula ainda não estava consolidado e por mais exposição que tivesse, precisaria de mais exposição ainda e a declaração do Lula de que ela era a sua candidata.

Nessa ocasião, fruto das apaixonadas  conversas sobre o quadro eleitoral, fiz a primeira das três apostas que faria sobre o resultado das eleições, defendendo que a vitória seria do Lula, os três apostadores apaixonados e sem fazer a leitura do que estava passando nos corações e mentes do povo brasileiro, cravaram seus diagnósticos na candidatura de Serra, que era ancorada nas falsas pesquisas.

Os meses posteriores, o que eu havia percebido em contato com o Brasil real, foram se concretizando e hoje, ao que tudo indica a "mulher" do Lula  será eleita presidenta.

Durante esse período, não houve um caminho tão certo como eu previa, pois eu não esperava que a rede de boataria e o denuncismo contra a Dilma, não que alguns não fossem verdade, mas que os métodos utilizados, foram os piores possíveis, além disso, a agenda mais conservadora, entrou pelas portas do fundo no final do primeiro, para não mais sair da agenda dos candidatos.

Na pratica, nenhum dos dois candidatos representa nenhum avanço para o povo brasileiro, a diferença entre os dois é que  o Lula conseguiu como nenhum político brasileiro, compreender a alma brasileira e não só compreendendo, mas, interpretando o mundo da metalinguagem política para o povo, não é incomum em seus discursos, Lula usar metáforas do cotidiano para explicar temas como , racismo, machismo, moradia, política externa, divida externa, que faz com que o povo compreenda, segundo interpretação do Lula, temas que antes eram tratados por especialistas, que são geralmente falados de uma forma incompreensível  ao povo, o que Lula rompe com esses debates inatingíveis dantes, com uma deliciosa conversa de boteco, cheia de metáforas e piadas, tornando-o parte da família de todos.

Um fato interessante dessa característica de Lula e o seu sentido para o povo, foi  que pude observar em muitas casas do nordeste, sou nordestino e sempre pude verificar que a imagem do Padre Cícero ou de Frei Damião, que tem o simbolismo da redenção do povo aqueles arautos da fé, pude observar um movimento interessante em muitas casas que entrei no nordeste, que era a foto do Lula, mas não uma foto fria , distanciada e inalcançável,era uma foto viva, com o Lula sempre com alguém da família (invariavelmente o(a) chefe), que o tornava onipresente naquela família, comunidade etc
 
Aliado a construção desse imaginário, ao longo desses 8 anos, a oposição e os anti-petistas/lulistas, foram incapazes de lê outro aspecto da vida do país e da ação do Lula. Enquanto os Demos/Tucanos, que foram incapazes de enraizar o capitalismo no Brasil, e o contrário aconteceu com o PT de Lula, que criou as melhores condições para que o capitalismo campeasse de norte a sul, criando as melhores condições para o capitalismo, permitindo a exploração ilimitada dos recursos naturais do país, a ampliação em larga escala do agronegócio, condições de infra-estrtura em desacordo com o meio-ambiente e  desrespeitando os povos tradicionais e originários, como nunca antes tinha sido visto.  

Para fazer tudo isso, o Lulismo atacou um dos problemas do país, exatamente por conta dessa visão tosca dos coronéis gestores do capitalismo até então, que foi a questão da fome e da miséria extrema, reeditando a lei dos pobres o século 17 da Inglaterra, possibilitando que todos tivessem acesso alguma merreca do estado, criou um programa de moradia "im"popular, que só beneficiou as construtoras, criou linha de financiamento/endividamento de produtos de linha branca, estimulando o acesso ao crédito, pois o povo adquiriu uma divida de anos. E ainda,  aparelhou, desestabilizou e desarticulou os movimentos sociais combativos.

Lula conseguiu mais um feito, que foi trazer para o seu entorno a pior da direita, seja do nordeste, sul, sudeste, centro oeste e norte, que se por um lado, pois petista sério em conflito, que foi superado pelo pragmatismo eleitoral, essas alianças com antigos desafetos, ajudou a consolidar  o poder e o simbolismo do lulismo, que criou situações em alguns estados, que o PT não tinha nenhum grande nome regional para disputar o governo, partidos antes adversários do PT, passaram a interferir nas disputas internas do PT, para influenciar o resultado da disputa, para que Lula subisse, nesse ou naquele palanque.   

Por fim para entender o lulismo. Em nada alterou a relação com o capital financeiro, que permaneceu incólume e mais forte ainda, proporcionando grandes lucros na especulação financeira e felizes da vida os bancos agradeceram.

O que os Tucanos/Demos e a grande mídia  não entenderam, ou não quiseram entender, é que o capital já fez a sua escolha, o seu melhor e confiável gestor, se de alguma forma colocou algum dinheiro na campanha do Serra, foi por agradecimento aos serviços prestados e não por desejar que esse voltasse ao poder, pois a visão estratégica da gestão capitalista foi muito bem apropriada pelo lulismo, que superou a antiga vi são de gestão regionalizada e sem capacidade de administrar as tensões sociais pelo tucanato.

Por outro lado, o rebaixamento do debate para a gestão do capital, que por si só não dialoga com o povo, pois este já havia se decidido, o lugar que os Tucanos/Demo e grande mídia levou a campanha, criou nas pessoas uma aversão, falta de escuta e capacidade de analisar o cenário que se desenhou, criando uma aversão ao debate eleitoral, que definiu os candidatos não pelas idéias e sim pelas condições anteriores apontadas, que infelizmente retira toda e qualquer possibilidade de debate de projeto societário de fato, porque se por um lado, a forma de gestão do tucanismo está superada a gestão do capital pelo petismo, apresentará em breve os seus sintomas contra os quais o povo não se preparou.   

Por fim, se o mote dessa campanha de alguns setores mais engajados e conscientes de que a vitória de Dilma, não significa nenhum grande avanço da luta popular, mas que teria que derrotar o pior da direita nas urnas,hoje a noite anunciado o resultado eleitoral, se a  candidatura das urnas confirmar a Dilma, temos a tarefa e responsabilidade de reorganizar a esquerda e derrotar nas ruas, o projeto capitalista que a Dilma e Lula representam!

Um comentário:

Unknown disse...

Givanildo você retratou o movimento real da nossa política, onde as aparências de um pretenso governo progressista, esbarra na realidade cada vez mais cruel e incontrolável da ânsia capitalista. Ontem, mesmo assisti a um documentário na Globo News, onde se apresentavam justificativas para a realização de uma nova reforma previdênciária no Brasil. Esta que por sinal faz parte do programa "progressista" do PT/PMDB. Mas a coisa é como você captou, o lulismo fez uma grande contribuição para compreender e falar a linguagem das massas. De tal modo que a gestão neoliberal do capitalismo conseguiu de fato estabelecer suas bases na política e na economia do Brasil, principalmente tornando-se agora parte da vida dos brasileiros. Com o aumento do crédito, a concessão de bolsas de estudo (via capital privado), com o gerenciamento da miséria, o "povo" não vai querer que nenhuma mal aconteça ao capital. De fato, a campanha do PSDB/DEM conseguiu jogar pra bem longe o debate fundamental da política econômica, não que esse debate fosse feito de algum modo pelo PT, mas que o espírito obscurantista e arrivista, só contribuíram para manter "incólume" o poder do capital.