Viciados no crime
Oagressor treme a voz,abaixa a cabeça, nega o crime. Wilson Soares Santos, 44 anos, cumpre pena por ter violentado uma menina de apenas três anos. Com seus dedos longos e unhas compridas,violou o corpo da filha de uma vizinha. Pelo crime, Wilson ganhou o apelido de Gavião. Como a ave predadora, prefere as “presas” pequenas. Na penitenciária de Medina (MG), improvisada nos fundos da delegacia,não recebe atendimento psicológico que o faça refletir sobre a barbaridade que cometeu.
“Tenho filha, não mexo com a família dos outros”, desconversa Gavião. A reação mais comum entre os agressores é negar a violência cometida. Eles consideram o ato tão brutal que não admitem nem para si mesmos que foram responsáveis pelo crime.
A atitude não contribui para a reintegração à sociedade. Negar a culpa aumenta o risco de reincidência. No caso de Wilson, a menina de três anos violentada é
a segunda vítima. Em 2000, ele foi condenado por estuprar uma moça. “Não falo sobre isso, não cabe falar, já paguei o que devia”, diz Gavião.
Não é apenas na cadeia do interior de Minas que os agressores ficam sem atendimento.
No Brasil, experiências de tratamento para eles são iniciativas isoladas. Até hoje não foi formulada uma estratégia nacional de atenção aos abusadores sexuais.
Depois de cumprir as sentenças,eles voltam às ruas sem passar por qualquer tipo de atendimento psicológico.
As chances de reincidência são grandes. Uma pesquisa recente realizada nos Estados Unidos mostra que 33,2% dos abusadores voltam a cometer crimes sexuais. Quando recebem tratamento terapêutico, o percentual cai para 14%. “Temos de investir
na Justiça restauradora, que faça os agressores terem a consciência dos crimes e que, inclusive, os leve a pedir perdão para as vítimas”,afirma Carmen Oliveira,
subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente,da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Culpa da vítima Uma estratégia comum entre agressores confessos é culpar a
vítima. Para justificar a conduta,eles argumentam que a sedução partiu da criança ou da adolescente. “Eles precisam negar ou diminuir a responsabilidade
frente aos crimes. Mesmo inconscientemente,sabem que fizeram algo extremamente condenável”, analisa a psicóloga Andreína Moura, que prepara tese de doutorado sobre o tema na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Mauro (nome fictício), 45 anos, põe a culpa na enteada de 12 anos. Argumenta que a moça “armou” para cima dele. Ela teria combinado com a mãe uma arapuca para retirá-lo de casa. “Foi ela (a menina) que me chamou para o sofá, eu não fiz nada”. Na versão da menina, o padrasto invadiu o quarto dela, a arrastou para a sala e tentou despi-la. O estupro só não foi consumado porque a mãe acordou e surpreendeu
o marido sobre a filha.
Sentenciado a seis anos e seis meses de prisão, Mauro adota tom moralista para falar das duas:“São safadas. Eu criava ela como filha e a minha mulher já botou outro homem dentro de casa”.
Os agressores geralmente enfrentam problemas com a sexualidade.
Muitos têm dificuldade em manter relacionamentos adultos. Deficiente físico, o comerciante Aureliano Santos, de 57 anos, procurava meninas com idades entre 7 e 11 anos para se satisfazer sexualmente. Oferecia balas e moedas de R$ 1 para tocar
no corpo delas e exibia DVDs pornográficos. “Não houve dúvidas sobre a culpa dele porque as meninas detalharam muito bem o que acontecia. Elas chegaram até a indicar para a polícia onde ele guardava os DVDs”, comenta a promotora Sumara Aparecida
Marçal, que apresentou a denúncia à Justiça.
Na penitenciária de Medina,Aureliano garante que as meninas é que buscavam por ele. “Elas iam para a minha casa, pegavam o controle remoto, pareciam as donas do lugar”, declara o comerciante, que, durante a entrevista,tenta chorar.
Castração e vigilância
A maneira correta de lidar com o agressor não é consenso em outras partes do mundo. Na França, a castração química — tratamento hormonal que diminui o desejo sexual — é defendida pelo presidente Nicolas Sarkozy.Em agosto, ele anunciou a construção
de um hospital psiquiátrico para tratamento de condenados por crimes sexuais. Nos
Estados Unidos, alguns estados adotam métodos de vigilância eletrônica. Os passos dos violentadores são comunicados a uma central de polícia por meio de sinais emitidos por chips.
“A discussão sobre o tratamento do agressor é muito nova. Ainda temos de avançar muito”, reconhece Neide Castanha,secretária-executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Para ela, a
complexidade do assunto merece maior investimento em pesquisas.
“A penalização não dá conta de resolver o assunto. É necessário fazer algo para evitar a reincidência”, acrescenta. “A primeira reação é apartá-los do
convívio. Mas isso não contribui para a construção de uma sociedade mais pacífica.”
9.Receio paraibano A capital paraibana ainda não é um dos destinos turísticos favoritos no Nordeste,mas o fluxo de visitantes aumenta a cada dia.O desafio das autoridades municipais é fomentar o turismo sem trazer a exploração sexual."Essa é uma das nossas grandes preocupações. Queremos trazer mais visitantes para João Pessoa,mas estamos trabalhando preventivamente para evitar que nossas meninas sejam exploradas",explica a secretária municipal de Desenvolvimento Social de João Pessoa,
Francisca Chagas.Na praia de Cabo Branco,uma das mais conhecidas da capital paraibana,adolescentes começam a aparecer cedo,a partir das 8h.As três jovens
que aparecem na foto correram ao perceberem que haviam sido flagradas.Mas no dia seguinte,duas delas estavam no mesmo local.
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