"Durante anos nós ficamos invisíveis, e nós queremos visibilidade", um ex-morador de rua que participou de uma manifestação nesta terça-feira na Capital capixaba
Letícia Gonçalves - gazeta online
Há treze anos o jovem Antônio Ermírio Chaves, 23, vive nas ruas de Vitória. Ele conta que a família morreu quando ele ainda era criança e que, desde então, dorme em praças e calçadas. Antônio vive em um círculo do qual não consegue se desvencilhar. Por não ter moradia fixa, ele não consegue trabalho. Por não ter fonte de renda, não pode sair das ruas.
"Eu tenho um curso de mecânico, porém ninguém oferece emprego pra gente por sermos moradores de rua. A gente fica o dia inteiro andando, pede comida na casa dos outros. Já fui ameaçado várias vezes, já apanhei na porta de algumas pessoas, já apanhei de policia", conta.
O rapaz foi uma das cerca de 200 pessoas que participaram de uma manifestação nesta terça-feira (08) em Vitória, que contou com moradores e ex-moradores de rua. O coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Anderson Lopes Miranda, 34 anos, diz que o objetivo é divulgar o movimento e chamar a atenção para a necessidade de políticas públicas para quem vive em situação de rua.
"Esse movimento é em busca de políticas públicas. Durante anos nós ficamos invisíveis e nós queremos visibilidade. Dizer que nós somos cidadãos e merecemos políticas públicas voltadas para nós", afirma. Entre essas políticas ele cita as que fazem parte de setores como habitação, trabalho, saúde, esporte e direitos humanos, além da área da assistência social, a única que, de acordo com ele, promove ações para os moradores de rua atualmente no país.
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Hoje ex-morador de rua, o coordenador, que é de São Paulo, já passou um período no Espírito Santo. "Eu morei 16 anos na rua. Hoje eu tenho emprego, tenho casa, tenho família. É tudo uma questão de oportunidade e de olhar para a gente", avalia.
Entre os manifestantes havia até crianças. Um menino de 15 anos - que não será identificado - conta que saiu da casa em que vivia com a mãe, o padrasto e sete irmãos e há pouco mais de um mês passa as noites sob marquises em São Torquato, Vila Velha.
"Meu padrasto me 'esculacha' e ele tem um revólver em casa, por isso eu vivo na rua. Eu durmo, uso thinner (um tipo de solvente químico) e cigarro. Minha mãe está em casa, não sei o que ela está fazendo, ela não me procura".
Ex-moradora de rua, Aldineia Souza Rocha, 31 anos, diz que as relações familiares influenciam no destino de jovens como esse. "Isso começa na família, que rejeita, que maltrada o jovem. Aí ele vai para a rua e na rua é acolhido por quem se diz amigo dele, então ele vai ficando".
Ela destaca que a situação dos moradores de rua no Estado é sofrível. "A situação da população de rua no Espírito Santo é precária. Eles não são socorridos pelo Samu, não têm direito à saúde, nem à dignidade. Quando as pessoas veem um morador de rua dizem 'olha, lá vem um ladrão', isso não é verdade. A gente quer mostrar que somos seres humanos".
Situação de rua
A assessora técnica da Gerência de População de Rua de Vitória, Gilderlandia Silva Kunz, explica que nem sempre quem está em logradouros públicos é morador de rua.
"Nem todo mundo que está na rua é de rua. Muitas pessoas vêm para as ruas para buscar uma forma de sobrevivência, entre elas há trabalhadores, como malabaristas, catadores de material reciclável e flanelinhas. Eles estão em situação de rua, mas voltam para suas casas à noite. Os moradores de rua são os que pernoitam".
De acordo com a assessora técnica, em Vitória há 160 pessoas em situação de rua e 50 moradores de rua propriamente ditos. Ela diz que um levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, feito em 2008, apontava a existência de 700 pessoas em situação de rua na região metropolitana de Vitória.
Ainda, segundo o ministério, o Brasil tem 39 mil moradores de rua, mas a estimativa do movimento nacional é de esse número seja de 50 mil pessoas.
Manifestação
A manifestação desta terça partiu da Prefeitura de Vitória, em Bento Ferreira, e seguiu até o Palácio Anchieta, no Centro. Durante o protesto eles lembraram o assassinato de uma moradora de rua que ocorreu em agosto deste ano. Identificada apenas como Marina, ela foi morta a pedradas próximo à escadaria Maria Ortiz, que dá acesso à sede do governo estadual, e.
m agosto deste ano. De acordo com o delegado Orly Fraga Filho, da Divisão de Crimes Contra a Vida de Vitória, 16 moradores de rua foram assassinados na cidade somente em 2010
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