quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Criminalização da Pobreza 2
Polícia revista adolescente seis vezes em menos de 24 horas em Paraisópolis
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MATHEUS MAGENTA
colaboração para a Folha Online
Um adolescente de 15 anos, morador da favela de Paraisópolis (zona oeste de São Paulo), foi revistado seis vezes em menos de 24 horas por policiais militares que realizam a Operação Saturação deflagrada nesta quarta-feira no local.
Em entrevista, ele disse nem se importar mais. "Tem dias que a gente chega da balada de madrugada e os policiais já saem do carro batendo, dando coronhada na cabeça e xingando de vagabundo", afirmou.
Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
Policiais militares em favela de Paraisópolis; nesta quarta-feira ocorre ação policial
Policiais militares em favela de Paraisópolis; nesta quarta-feira ocorre ação policial
A ação foi deflagrada devido a atos de vandalismo ocorridos na segunda-feira (2). Um confronto na favela entre moradores e policiais terminou com quatro PMs feridos --três deles baleados e ao menos um morador ferido.
A presença dos cerca de 400 homens e 100 carros no local divide opiniões dos moradores. Alguns apoiam e não se importam em ser barrados. Outros afirmam se incomodar com a presença ostensiva dos policiais no local.
A tenente Cibele Marsola, da área de relações públicas da PM, informou hoje que o trabalho da chamada Operação Saturação é composto por três linhas principais. A primeira é composta pela presença de 300 homens da tropa de choque e outros 100 do policiamento de área que permanecem por tempo indeterminado no local. A segunda é a de dar continuidade ao trabalho de inteligência executado pela Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, da PM), e o terceiro, é a montagem de bloqueios em 33 pontos da favela para revista de pessoas suspeitas.
Um adolescente foi apreendido na manhã desta quarta-feira. Ele fugiu de uma das unidades da Fundação Casa (ex-Febem), onde cumpria medida socioeducativa, segundo a PM, e foi apreendido por volta das 11h de hoje.
Ontem, por volta das 15h20, os policiais foram até uma casa e encontraram uma arma com numeração raspada e 269 invólucros para cocaína. Os recipientes estavam vazios e não havia ninguém no local.
Moradores
O eletricista Alailson Pereira, 25, morador do bairro há oito anos, afirma concordar com as revistas. Entretanto, questiona que elas sejam feitas apenas de forma pontual. "Bom mesmo é que eles não façam só hoje [revista] mas todo dia", afirma.
Para uma moradora que não quis se identificar, o problema das abordagens é que tanto trabalhadores quanto supostos criminosos são tratados da mesma forma. "Em dias normais os policiais param alguns meninos suspeitos, ofendem, batem e depois desaparecem por um bom tempo", afirmou.
Uma funcionária de um baile funk que funciona na favela, Rivania Soares, 20, também critica as abordagens. "Enquanto eu sou parada para ser revistada passa um cidadão que não quer o bem com a mochila cheia de coisas estranhas", disse. Questionada o que seriam essas coisas, ela sorriu e não quis dar detalhes.
Para o presidente da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, Gilson Rodrigues, relatos de violência policial são comuns. Ele afirmou que todos os relatos são formalizados e discutidos pelo Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) do Portal do Morumbi.
Outro lado
A tenente da PM Cibele Marsola disse que várias abordagens a uma mesma pessoa --como ocorreu com o adolescente-- podem ocorrer. "As pessoas de bem aprovam a presença dos policiais no local", disse.
Ela ressaltou que é importante que os moradores denunciem tudo aquilo que julgarem irregular.
"É importante que denunciem os dois lados, tanto dos policiais que eventualmente cometerem excessos quanto dos criminosos. É importante que a comunidade se aproxime da polícia", afirmou.
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