Infância Urgente

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Já é carnaval. Acordem pra ver!

Êta que a polícia racista, os homofóbicos, os grupos de extermínio, a mídia estigmatizante e demais expressões criminosas não agüentavam mais esperar por este momento: O carnaval.

Porque é neste período do ano, onde quem quer exercitar as suas perversidades reprimidas, contra crianças em situação de rua, profissionais do sexo, contra os adolescentes em liberdade assistida, gays e lésbicas negras pode fazê-lo tranqüilamente. Pois todos estão voltados para as pernas torneadas da Ivete Sangalo, para o candomblé elétrico de Daniela Mercury e, o mais faminto defensor dos direitos humanos para o Chiclete com Banana.

Quem aprecia o Bloco Inter, nem reflete, que no intervalo de um bloco e outro, um negro se abaixa para catar a latinha, enquanto uma trabalhadora negra que bebe água com coliformes fecais diariamente, cata as garrafas Pet.

Quem tá limpo ouve da policia: Perdeu, perdeu! O seu assassinato não será noticiado nem amanhã, nem A Tarde e ninguém ficará sabendo. A futurologia diz que ele vai se envolver em rixa devido à dívida no tráfico de drogas. Olha, aposto que se ficasse nas Jaulas pensadas pela Secretaria de Segurança Pública seria mais lucro, porque muitos diriam – “não maltrate os animais”.

Corre negona que lá vem o rappa! Aqui se você não pagou o valor abusivo da licença para comercializar, vai perder o dinheiro do carreto fiado, da mercadoria, do gelo e da energia elétrica que ilumina o seu ponto de venda. Mas a sua filha é bonitinha, viu! E a gente aqui tá com fome e água na boca.

Os cordeiros independentemente da cor da pele dos associados ao bloco, serão vitimados pela mesma violência. Água quente, pão duro, tapa de transeunte, tapa de polícia, humilhação da chefia de segurança, mãos doloridas e uns trocados.

Enquanto isso as trabalhadoras cordeiras lutam contra os homens masculinamente deformados, que no ensejo comprimem suas vontades sexuais sobre os corpos destas mulheres.

Mas fazer o quê? É preciso puxar a corda, garantir o conforto do folião; o problema deve ser de classe dizem os marxistas e não demanda de gênero. Ademais, vivemos em uma sociedade capitalista. Quando se vende à força de trabalho a dignidade vai junto.

Possivelmente, os grupos anti-homosexuais não contrariem a prevalência dos assassinatos de homoafetivos aqui na Bahia. Da mesma a forma que a “gringada” conheça este pólo turístico sem corroborar ao aumento de violência sexual a crianças e adolescentes durante o carnaval.

Que neste carnaval enxerguemos mais e Observemos menos.

Que possamos chorar e sorrir no sábado, sermos Bikudas (os) e mais tarde nos vermos belos. No mais Belo dos Belos!


Carla Akotirene

Carla Akotirene - 071 8108/6339- 8854/3034
Coordenação do Fórum Nacional de Juventude Negra/Ba
Articulação Brasileira de Jovens Feministas
Conselheira Municipal da Comunidade Negra de Salvador
Coordenadora do Centro de Promoção da Igualdade

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