Pesquisa do IBGE revela que 34,5% dessa população vivem com renda per capita de 1/4 de salário mínimo
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referentes a 2008, mostram que a população de crianças e adolescentes, com idades entre zero e 17 anos, no Ceará, era de 2,783 milhões de habitantes. Deste total, 67,1% viviam na pobreza.
A pesquisa revela que 34,5% vivem em domicílios onde a renda per capita, por mês, é até 1/4 de salário mínimo, o que caracteriza situação de extrema pobreza. Outros 32,6% integram famílias em que a renda per capita está entre 1/4 e meio salário mínimo, ou seja, em situação de pobreza.
Os números são praticamente os mesmos do Nordeste. Levando-se em conta as famílias com renda per capita mensal de até 1/4 de salário mínimo, o percentual de crianças e adolescentes vivendo neste situação é de 34,4%. Os que vivem em domicílios com renda per capita de mais de 1/4 até meio salário mínimo, por mês, correspondem a 32,3% do total, 17,998 milhões de pessoas.
Quando o universo pesquisado é o Brasil inteiro, o número de indivíduos na faixa etária de zero a 17 anos é de 57,170 milhões. Destes, 18,5% residem em domicílios onde a renda per capita mensal é de até 1/4 de salário mínimo, 26,2%, em famílias com renda per capita mensal entre 1/4 e meio salário, e, 26,9%, inseridos em contextos nos quais a renda per capita a cada mês fica entre mais de meio a um salário mínimo.
Os dados da Pnad indicam ainda que apenas 0,7% dos cearenses na faixa etária pesquisada estão inseridos em contextos onde o rendimento mensal familiar per capita é superior a cinco salários mínimos. O número é o mesmo, se considerada toda a região Nordeste. O índice sobe para 1,7%, no Brasil.
Má distribuição
Para Aurilene Vidal, membro da Comissão de Defesa do Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente, no Ceará, as estatísticas jogam luz sobre a irregularidade da distribuição de renda no Brasil e, em especial, na Região Nordeste.
"Pode-se dizer que não há distribuição de renda", afirma. "As riquezas estão cada vez mais concentradas".
Segundo Aurilene, a situação é agravada pela falta de investimentos do poder público em programas de geração de renda e inclusão social. Ela avalia que os projetos existentes são ineficazes e não beneficiam a quem deveria. "A parte operacional das políticas não funciona. Os recursos destinados são insuficientes, o que torna o atendimento ineficaz", declara.
Além disso, ressalta, é preciso apostar no controle da natalidade, que deve ser discutida de forma educativa. "Nasce muito mais crianças nas classes mais baixas do que nas demais. Isso faz com que a renda per capita caia ainda mais", diz.
LONGEVIDADE
10,85% das pessoas são idosos
Não foi somente a vida do cearense que melhorou. A população também está mais velha. Segundo os dados da Pnad/2008, em sete anos - 2001 a 2008 - o número de idosos aumentou 32,42% no Ceará. Eles já são 919 mil ou 10,85% da população. "Isso é muito bom, porque denota a melhora na qualidade de vida da gente", diz a aposentada Júlia Maria de Alencar, de 65 anos de idade.
Para o sociólogo Eduardo Gomes Machado, o processo de envelhecimento da população brasileira, apontado pela pesquisa altera não apenas a vida dos indivíduos e as estruturas familiares como também aumenta a demanda por políticas públicas e a pressão por uma maior distribuição de recursos.
As consequências, de acordo com estudo do instituto, são vistas "com preocupação" e representam desafios para o Estado, para o mercado e para as famílias. Dentre as quatro políticas identificadas como de maior importância para a população idosa em crescimento estão: renda para compensar a perda da capacidade laborativa (previdência e assistência social), saúde, cuidados de longa duração e a criação de um entorno favorável, que inclua aspectos como habitação, infraestrutura e acessibilidade. "Assim como a forte saída da população do campo para a cidade necessita de políticas públicas definidas, as questões da cidade, com o envelhecimento de sua população, requer um olhar objetivo para os problemas estruturais", avalia ele.
O IBGE, na análise da pesquisa, aponta que não se trata apenas de garantir infraestrutura de saúde, mas de todo um conjunto de medidas que possam garantir o bem-estar dos idosos brasileiros, que contemplem os aspectos psicossociais, as relações de trabalho e estudo e convívio familiar. A chamada "crise de cuidados", que vem sendo percebida com especial relevância nos países europeus.
FILIPE PALÁCIO
REPÓRTER
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