Como a rede sofre com perigos transpostos do mundo real, o diálogo é fundamental
Publicação: 14/10/2009 09:50 Atualização: 14/10/2009 09:56
A internet é fonte de informação e entretenimento para milhões de pessoas em todo o mundo. Sua utilização, entretanto, principalmente por crianças e adolescentes, exige muita atenção. A grande rede pode ser o palco de praticamente todos os crimes que acontecem no ambiente real, como pedofilia e aliciamento de crianças para a prostituição. Contudo, tomadas algumas atitudes simples, o seu uso pode ser bastante seguro e confiável.
O assessor de prevenção da organização não governamental SaferNet, Rodrigo Nejm, ressalta que o mundo virtual apresenta os mesmos perigos que o mundo real. "As pessoas precisam ter em mente que qualquer crime que acontece na vida real pode também acontecer via internet", sustenta. Segundo ele, o mesmo cuidado que é tomado no cotidiano "real" deve ser transposto para a internet. "Da mesma forma que os pais orientam seus filhos a não falarem com estranhos na rua, é importante orientá-los a não conversar com desconhecidos na internet".
Segundo dados da SaferNet, no primeiro semestre deste ano 55% das mais de 44,5 mil denúncias de crimes na web se referiam à pornografia infantil. O crime pode ocorrer de várias formas. Há casos, por exemplo, nos quais as crianças são coagidas a fotografar o próprio corpo, ou exibi-lo por uma webcam. Em outras situações, o assédio acontece de forma mais sutil, quando os agressores induzem as crianças a falarem sobre sexo. A rede também é um dos caminhos para a exploração sexual, principalmente de adolescentes, recrutados via internet para a prostituição.
Para Rodrigo, outro problema que vem crescendo entre os jovens internautas brasileiros é o chamado "sex pin", em que, durante uma paquera pela internet, o adolescente fotografa partes íntimas do próprio corpo e envia para outros jovens. O problema é que, na maioria das vezes, essas fotos acabam sendo divulgadas para outras pessoas, indo parar inclusive em redes de prostituição. "O jovem precisa ter a consciência de que a internet é um lugar público, como a rua, por exemplo. A partir do momento que ele envia suas fotos, perde total controle sobre o destino que elas irão tomar", alerta.
Estratégia
Cássia Barros Pacheco, mãe de Victória, 10 anos, e Augusto, 7, é rigorosa no controle do acesso dos filhos. Na casa, o laptop da família fica guardado fora do alcance das crianças. "Eles só entram junto comigo. No MSN, usam a minha conta, e todos os outros sites que exigem senha, eu controlo", explica ela, que tenta minimizar o tempo que as crianças passam no computador. "Todas vezes que eles pedem para entrar, eu tento convencê-los a fazer outra coisa, como montar um quebra-cabeças ou ler um livro".
Mesmo com todos os cuidados, Cássia já se viu em uma situação complicada. Um dia, ao abrir o perfil da filha em um site de relacionamentos, ela se deparou com diversas imagens de pornografia deixadas por um desconhecido. "A minha filha ficou sem entender o que estava acontecendo, eu apaguei tudo e ficamos muito tempo sem acessar esse site", conta a mãe. Apesar do susto, a situação serviu para orientar melhor a filha sobre os perigos da internet. "Eu aproveitei para mostrar para ela que eu controlo tanto o uso do computador para evitar situações como aquela", completa.
Para Marcus Fonseca, coordenador de desenvolvimento de sistemas do Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia (IBICT), autarquia ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, é importante os pais incentivarem o uso educativo da internet. "Os pais precisam incentivar as crianças a acessarem sites de conteúdo positivo. Também seria interessante criar um cardápio de sites educativos ou de entretenimento previamente selecionados, onde a navegação é segura", conta.
Outra opção é a instalação de bloqueadores de conteúdo, programas de fácil instalação que impedem que a criança acesse sites com pornografia ou violência. No entanto, os pais devem ficar atentos. O uso desses programas não garante proteção total, porque existem sites que ensinam como desativá-lo sem a autorização dos pais. Portanto, diálogo e conscientização são sempre a melhor saída.
Medida drástica
A dona de casa Dilza Scarpa resolveu adotar uma atitude drástica em relação à exposição dos filhos na internet. Para proteger Rodrigo, 14 anos, e a pequena Camila, 9, ela decidiu não manter computadores em casa. Apesar da reclamação das crianças, o acesso é feito apenas na escola e para pesquisas escolares. "Não quero que eles deixem de estudar ou brincar para passar o dia todo em frente ao computador", justifica a mãe.
A atitude linha dura parece estar dando bons resultados. O filho mais velho, Rodrigo, é um dos melhores alunos da escola. "Eu sempre recebo cartas da direção do colégio dele parabenizando pelas notas dele, pelos seus resultados nos simulados", orgulha-se a mãe. Ela atribui o sucesso nos estudos ao tempo que o filho economiza não utilizando o computador. "Se ele tivesse acesso, passaria o dia todo conectado, ia deixar de estudar e de fazer outras brincadeiras mais saudáveis. Assim, pelo menos por enquanto, nada de computador aqui em casa", conclui.
10 dicas
Veja abaixo algumas sugestões que podem ajudar a controlar melhor o tipo de conteúdo que crianças têm acesso na internet. Apesar de muito úteis, os especialistas lembram que o diálogo é sempre a melhor maneira de manter seu filho protegido.
1. Estimule seus filhos a compartilharem as experiências deles na internet com você. Navegue na rede com ele. Conhecer a internet é a melhor forma de ajudar seu filho a evitar as armadilhas. Colocar o computador em uma área movimentada da casa também pode facilitar seu controle sobre o que ele acessa
2. Ensine seus filhos a confiar em seus instintos. Se algo online os deixa nervosos, eles devem dizer isso a você
3. Se seus filhos visitam salas de bate-papo, utilizam programas de mensagem instantânea, jogos online ou outras atividades na internet que solicitam login e senhas para identificação, ajude-os a escolhê-las e oriente-os para que eles não revelem qualquer informação pessoal
4. Insista para que seus filhos nunca divulguem endereço, número de telefone, escola onde estudam ou qualquer outra informação pessoal. Explique que pessoas mal intencionadas podem utilizar essas informações
5. Ensine seus filhos a diferença entre o que é bom e o que é ruim na internet e compare com situações do mundo real. Mostre para eles que, da mesma forma que na vida real, existem pessoas boas e ruins na rede
6. Mostre aos seus filhos como respeitar os demais online. Certifique-se de que eles saibam que as regras de bom comportamento não mudam somente porque estão em uma máquina
7. Insista para que eles respeitem a propriedade dos outros que estão online. Explique que realizar cópias ilegais do trabalho de outras pessoas (música, vídeos, jogos e outros programas) é roubo
8. Diga aos seus filhos que eles nunca devem marcar um encontro pessoal com amigos virtuais. Explique que os amigos online podem não ser quem dizem que são
9. Ensine a eles que nem tudo o que leem e veem online é verdade. Estimule-os a perguntarem, se não estão seguros da veracidade das coisas na rede
10. Controle a atividade online dos seus filhos com softwares avançados de internet. A proteção infantil pode filtrar conteúdo prejudicial, supervisionar os sites que seu filho visita e averiguar o que ele faz neles. Acima de tudo, oriente-o sempre sobre os perigos da internet.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário