Carolina Lauriano Do G1 RJ, em 23 de julho
Vítima da tragégia da Candelária levou 8 tiros e mora na Suíça.
Ato no Centro do Rio faz homenagem aos mortos pela violência.
Irmã de Wagner dos Santos, um dos sobreviventes da chacina da Candelária, no Rio, e também principal testemunha do crime, que completa 17 anos nesta sexta-feira (23), Patrícia Oliveira, de 36 anos, revelou que a tragédia até hoje marca a vida do irmão. “Ele ainda tem vários problemas psicológicos”, afirmou ela.
Wagner mora na Suíça e, segundo ela, não trabalha porque foi considerado incapaz. Depois de levar oito tiros no total, ele sofre de envenenamento por chumbo, disse Patrícia.
A igreja da Candelária, que foi o cenário da triste chacina que matou sete crianças e um jovem, nesta sexta reúne mães, parentes e amigos de vítimas que morreram em episódios de violência no Rio e também em São Paulo. Eles lembram também da chacina de Acari, que em 1990 deixou 11 pessoas desaparecidas.
Uma missa é celebrada com a presença ainda de crianças de diversas comunidades e também de autoridades públicas, como o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Ricardo Henriques, e a ministra de Desenvolvimento Social, Márcia Lopes.
Depois do ato, eles seguirão em uma caminhada em defesa da vida até a Cinelândia.
Chacina da Candelária
A chacina da Candelária, crime que deixou revoltada a população do Rio de Janeiro, teve repercussão nacional e internacional. Oito meninos de rua foram assassinados nas imediações da Igreja da Candelária, um dos prédios mais conhecidos do Centro.
Mais de 40 crianças dormiam na praça da igreja quando cinco homens desceram de dois carros e dispararam em sua direção. Até hoje não se sabe o que motivou a matança.
Duas crianças e um rapaz de 19 anos foram mortos no local, enquanto os outros, aqueles que acordaram a tempo, tentavam fugir. Perseguidas, mais duas crianças foram alcançadas e mortas. Outros dois corpos foram localizados no Aterro do Flamengo, local a poucos quilômetros da Candelária.
Wagner dos Santos, a principal testemunha do crime, contou que foi levado de carro pelos homens e só sobreviveu porque se fingiu de morto. Mais de um ano depois da chacina, em dezembro de 1994, Wagner sofreria outro atentado no qual levou quatro tiros e resistiu aos ferimentos.
Em outubro de 1995, o sobrevivente pediu proteção ao então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, para prestar novos depoimentos sobre o caso. Ele se mudou para a Suíça e vinha ao Brasil para participar dos julgamentos dos acusados.
Três anos depois do crime, em novembro de 1996, num julgamento que durou 19 horas, o PM Nelson Cunha foi condenado a 261 anos de prisão.
Outro acusado, o também policial militar Marcus Vinícius Borges Emmanuel, foi julgado três vezes. Primeiro, ele foi levado a júri popular, em abril de 1996, mas a defesa recorreu. Em junho do mesmo ano, ele foi condenado pela morte de dois menores e absolvido em outras nove acusações. Em 2003, depois de um recurso do Ministério Público, o ex-policial foi julgado por quatro homicídios e cinco tentativas de homicídios. Emmanuel cumpre pena de 300 anos.
Marcos Aurélio de Alcântara foi o terceiro e último acusado a ser julgado, em agosto de 1998. Ele chegou a confessar o crime em 1995, mas mudou a versão no primeiro dia de julgamento e alegou inocência. Os advogados tentaram provar que ele teria sido induzido a confessar o crime, mas Marcos Aurélio de Alcântara foi condenado a 204 anos de prisão.
Dez anos depois, os sobreviventes tinham tomado diferentes rumos. Um deles passou a morar em uma favela com os pais e uma filha de 10 anos. Outro, que tinha 5 anos no dia do crime, permanecia nas ruas. Já a testemunha Wagner dos Santos foi morar na Suíça e vinha ao Brasil passar alguns dias. Em 2003, ele afirmou que ainda não recebera indenização dos governos no Brasil.
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