Infância Urgente

sábado, 24 de maio de 2008

Juventude sem trabalho

Do total de pessoas desocupadas do país, 46,6% têm entre 15 e 24 anos, revela o estudo “Juventude e Políticas Sociais no Brasil”, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão subordinado ao ministro do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Roberto Mangabeira Unger. A proporção de jovens entre os desempregados é a mais alta entre os dez países analisados na pesquisa, que inclui nações em estágios de desenvolvimento econômico semelhantes ao do Brasil, como Argentina (39,6%) e México (40,4%). A reportagem é de Mariana Schreiber e publicada pelo jornal O Globo, 21-05-2008.

Desde 1985, a taxa de desemprego juvenil nacional não parou de crescer, passando de 6% para 19% em 2005 — quase o triplo do nível de desocupação dos jovens mexicanos (7%).Atualmente, no Brasil, o desemprego entre aqueles que estão iniciando sua vida profissional é 3,5 vezes maior que entre os adultos com mais de 25 anos. O índice vem aumentando desde 1990, quando era de 2,8.

Segundo o Ipea, um dos fatores que explicam o desemprego alto entre os jovens é o custo menor de demissão desse segmento. Além disso, eles são considerados menos essenciais pela falta de experiência profissional. O estudo destaca que os jovens que enfrentam mais dificuldade para arranjar trabalho são os de baixa escolaridade, as jovens mulheres (especialmente com filhos) e os moradores de periferia. O técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea Roberto Gonzalez diz que muitos jovens precisam abandonar os estudos para buscar emprego devido à pobreza familiar, sendo levados a atividades precárias.

Quem está completando o ensino médio nem deveria estar buscando emprego, mas o faz por questão de sobrevivência. O jovem de baixa renda acaba circulando de um emprego informal para outro e nunca consegue abandonar esse ciclo por causa da falta de estudo— afirma.

‘Mais velhos estão sendo contratados’

Em 1985, os jovens representavam quase 60% dos desempregados brasileiros.
A proporção veio caindo ao longo dos anos 90, até chegar a 43,8% em 2000, e voltou a subir para 46,6% em 2005. De acordo com Gonzalez, a queda do número de jovens desocupados na década passada não significou uma melhora da sua inserção no mercado de trabalho:
— O que aconteceu foi o aumento do desemprego entre adultos, e não a diminuição do desemprego entre jovens. A situação ruim da economia na década de 90 levou à demissão dos adultos. Agora a economia está crescendo e gerando postos de trabalho, mas são os mais velhos que estão sendo contratados O desemprego está diminuindo, mas menos entre jovens.
Gonzalez afirma que, para reduzir a desocupação juvenil, é preciso promover simultaneamente a escolarização, a profissionalizaçã o e a ampliação do acesso ao mercado de trabalho, com incentivos à contratação de jovens.
No estudo, os especialistas do Ipea dizem ainda que é
“importante não restringir a atenção (das políticas públicas) apenas ao momento de entrada, e pensar em oportunidades de educação e requalificação continuada” .
A pesquisa chama a atenção para a necessidade de se criar incentivo financeiro — via bolsas — evitando que os jovens abandonem cedo a escola e cursos profissionalizantes para empregos de curta duração.
Cursos que desenvolvem habilidades específicas não solucionam o problema. A escolarização é muito importante. A maioria dos jovens brasileiros não concluiu o ensino médio— frisa Gonzalez.
Ainda estudando, Camila Cristina de Oliveira, de 19 anos, está à procura de emprego há dois meses.
Mesmo tendo feito um curso de camareira para trabalhar em hotéis, as oportunidades não surgem:— Como não se tem experiência, não tem oportunidade. Querem mais de um ano na carteira para comprovar experiência — lamenta.

Fonte: Site IPEA

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