Infância Urgente

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cenas da vida na rua

Pessoal, gente querida

De longe eu cheguei à terra

Morava lá tão distante

Num canto do pé de serra.

Pensando em mudar de vida

Pra ver se a miséria encerra.



Cheguei à cidade grande

Pensando ter meu espaço.

Pensei na minha cachola:

Vou sair do embaraço.

Um teto, comida, escola

Pra não ficar no bagaço.



Já tentei mexer com tudo

Fui servente, moto-boy.

Hoje estou sem o emprego

A vida só se destrói.

Sem a casa e sem salário

A família se corrói.



Não fiquei nenhum minuto

Na vida, paralisado.

Corri a traz do sustento

Na busca de um trocado.

Chovia dificuldades

Pensei voltar por roçado.



Não desisti de São Paulo,

Continuei pelejando.

Fazia sempre um biscaite

As coisas iam apertando.

O dinheiro foi sumindo

E a fome se instalando.



Estava aqui nessa banca,

Ganhando meu ganha pão.

Quando a tropa de soldado

Chegou metendo a mão.

O café, leite e o suco

Derramou-se pelo chão.



Fiquei tão desesperado

Sem saber o que fazer.

Os meninos agora em casa

Não tem mais o que comer.

Nesse futuro incerto

A gente vai é sofrer.

Trabalhei muito na rua,

Fui fazer qualquer oficio.

Flanelinha, camelô

Pra sair do precipício.

Mas um dia fui detido

Por entrar num edifício.



Passei meses na cadeia

A família abandonada.

Resolveu voltar pra terra

E saiu em disparada.

Quando sai da prisão

Fui dormi em uma calçada.



Um dia quando dormia

Aqui nessa escadaria.

Um jato de água forte

Numa noite muito fria.

Me deixou todo ensopado

Foi grande a covardia.



Dormindo nesse relento

Em calçada e viaduto.

Vivendo na exclusão

De onde extrair seu fruto.

Revoltado pelo mundo

Virando um homem bruto.



Agora tem holofotes

Para perturbar o sono.

De moradores de rua

Que já vivem em abandono.

Enquanto que os ricaços

Descansa em seu belo trono.



Pra comer fui catar lixo,

Fazendo a refeição.

Disputa com animais

Seja gato, rato, cão.

Matando a fome absurda

Isso é aberração.



Um dia no meio da praça,

Fazendo uma panelada.

De frente a Igreja da Sé

A panela é esvaziada.

Com um chute de um milico

Joga o comer na calçada.



A noite ficou tão triste,

Cada qual procura o chão.

Deitado, todo enrolado

Com a caixa de papelão.

O frio invadia o corpo

Por pequena proteção.



Para o morador de rua,

Não se tem nenhum direito.

Sem teto, emprego, comida

Se vive um desrespeito.

Humilhado, massacrado

Isso doe muito no peito.



Eu quero viver a vida,

Não é pedir um favor.

É um direito que tenho

Por ser um ser de valor.

No país ergo a riqueza

Pois sou um trabalhador.


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