Infância Urgente

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Meninas que custam R$ 2 ou um pouco mais...

FORTALEZA e RIO - Um buraco no muro abre caminho para o encontro da miséria com a lascívia criminosa de adultos que pagam para fazer sexo com menores. Tudo acontece à luz do dia nas proximidades do estádio Castelão, em Fortaleza. Os programas ocorrem num terreno baldio atrás de um muro, na movimentada Avenida Padaria Espiritual

Na terça-feira, dia 10, um homem na faixa dos 45 anos usou o local para fazer programa com uma adolescente que aparentava ter no máximo 16. A garota, viciada em crack, aborda transeuntes e motoristas para atrair clientes. Foi o que fez naquela manhã: correu atrás do homem, segurou-o e levantou a saia. Desconfiado, ele hesitou, mas acabou seguindo-a pelo do buraco no muro. Dez minutos mais tarde, saiu apressado. Logo atrás, ela ainda abotoava a saia. A adolescente cobra R$ 20.

" Ele apenas me deu 2 real. Ele sempre passa por aqui e vou ali com ele, que gosta de olhar para os meus peito "

Abordada pelo GLOBO, a garota quis saber se o que se buscava era informação ou um programa. Anunciou o preço e foi logo dizendo que não poderia ir a motel por ser menor.

- Sou de menor - disse, aproximando-se da janela do carro.

Ao ver a máquina fotográfica, levou um susto. E mudou o discurso:

- Aliás, sou de menor, não. Sou de maior, tenho 22. Ainda vou tirar (carteira de identidade). Sou de 88.

Outra adolescente, de 17 anos, faz ponto no mesmo local. Na manhã de quarta-feira, dia 11, ela contou ter recebido R$ 2 de um homem de 70 anos, que pagou para tocar nos seus seios. Com o dinheiro na mão, ela foi direto comprar um suco e um salgado.

- Ele apenas me deu 2 real (sic). Ele sempre passa por aqui e vou ali com ele, que gosta de olhar para os meus peito (sic). Ele ficou 5 minutos pegando neles e me deu os 2 real (sic). Isso não é um programa - disse, com o cuidado de só falar após mastigar.

O homem, aparentando nervosismo ao ser indagado sobre o que fizera atrás do muro, disse que foi urinar. Em seguida, apresentou-se como radialista e acrescentou que tem uma esposa linda:

- Sou pai de 12 filhos, avô de nove netos. Não sou homem disso, não. Sou contra a prostituição. (...) Moro aqui há não sei quantos anos, o que eu ia querer com uma prostituta dessas?

As adolescentes ficam na avenida dia e noite. Às 23h30m de uma segunda-feira, a adolescente de 17 anos permanecia sentada perto do mesmo muro, diante da avenida quase deserta. Ela contou que tem um filho e frequentou a escola até o último ano do ensino fundamental. Saiu de casa aos 14 anos:

- Minha mãe tinha ciúmes de mim com o marido dela.

Longe do Castelão, na Avenida Vicente de Castro, na região portuária de Fortaleza, próximo de uma favela, uma menina magra, com aparência de 15 anos, faz ponto ao lado de um amigo da mesma idade. Ela diz ter 18 anos, o que as feições de seu rosto negam. Conta que passou a fazer programas após ficar órfã, no mês passado. Hoje, vive com uma tia, que sabe que ela se prostitui. A adolescente diz que o irmão, de 18, está preso por roubo:

Ele não ouviu meus conselhos. Eu dizia: Você não ia gostar se trabalhasse o mês inteiro e alguém roubasse o que é seu.

No Rio, adolescentes também são vistos nas ruas de São Cristóvão e na Vila Mimosa. Na madrugada de uma sexta-feira, em junho, um travesti de 15 anos fazia ponto com dois adultos em São Cristóvão. Ele disse que abandonou a escola, mora com a mãe e que o dinheiro que ganha ajuda nas despesas de casa, comprar roupas e cuidar do cabelo. Avesso a perguntas, interrompeu a entrevista. Mas, vaidoso, ergueu a cabeça para mostrar o aplique que custou R$ 600 e lhe garante uma vistosa cabeleira.

Indagado se sente medo de ficar nas ruas, o garoto disse que carrega uma navalha:

- Vou ter medo? Sei me defender.

Demétrio Weber e Sérgio Marques,

Fonte: O Globo

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