Meninas grávidas é o título provisório do próximo documentário da cineasta Sandra Werneck que vai acompanhar de perto a gravidez de adolescentes brasileiras em diferentes locais do país. Realidade mais comum do que se pensa: recente pesquisa divulgada pela Unesco afirma que uma em cada dez estudantes brasileiras engravida antes dos 15 anos.
O tema polêmico não assusta a cineasta, pelo contrário: instiga. Talvez pouca gente saiba, mas Sandra Werneck, ao longo de sua carreira, vem se dedicando a explorar temas relacionados à infância e à juventude. O resultado se traduz numa cinematografia valiosa, merecedora da atenção e reflexão tanto dos educadores quanto dos profissionais da indústria de mídia. Na lista, obras premiadíssimas no Brasil e no exterior, como Damas da Noite (1987) que traz para as telas o debate sobre a prostituição infantil; Guerra dos Meninos (1991) que narra o dia-a-dia de crianças menores que vivem nas ruas das grandes cidades; e Profissão Criança, onde é abordada a questão do trabalho infantil.
Sempre à frente da produção e direção dos seus filmes, Sandra acredita que o cinema pode ser um instrumento para a construção de um futuro melhor para as crianças e adolescentes. "É pensando desta forma que trabalho. Meu interesse é investigar como as pessoas vivem, sentem e agem. Me interesso por gente, pela sociedade. Acabo trabalhando com temas relacionados à adolescência porque quero construir um mundo melhor para as crianças", destaca.
Em entrevista ao site do RIO MÍDIA, Sandra fala um pouco de sua trajetória e do seu próximo filme, para o qual pede a contribuição dos leitores: "Estamos fazendo uma grande pesquisa para roteirizar o filme. Seria ótimo receber sugestões, pesquisas e informações sobre o universo de meninas grávidas, inclusive nomes de adolescentes que se encontram nesta situação. Nos ajudaria muito".
RIO MÍDIA - Boa parte de sua cinematografia aborda questões ligadas à infância e à juventude do país, como o trabalho escravo, a prostituição infantil e o dia-a-dia das crianças que moram nas ruas. É uma linha de trabalho?
Sandra Werneck - Sempre me interessei pela infância e pela adolescência. As crianças e os adolescentes são o futuro do país. Se não olharmos para os problemas que estas gerações vivem, qual será o futuro delas? Mesmo nos filmes que não trazem a criança ou adolescente como personagem/tema principal, procuro pensar de que forma a obra pode contribuir para a formação das crianças. Quando fiz Pena Prisão, que mostrava o cotidiano das detentas da Penitenciária Talavera Bruce, quis dizer o quanto é importante educar as crianças, alertá-las, caso contrário elas acabariam daquela forma: presas.
RIO MÍDIA - De que forma você classificaria seus filmes?
Sandra Werneck - É um cinema que procura olhar o ser humano, um cinema investigativo. O meu roteiro, desde o primeiro curta que fiz, tem como foco os sentimentos das pessoas. Me interesso pelas diferenças, pelas angústias, pelos medos dos seres humanos. Ao mesmo tempo, procuro entender isso tudo por um víeis psicanalítico. Acho que eu acabo trabalhando com temas relacionados à adolescência porque quero construir um mundo melhor para as crianças.
RIO MÍDIA - Você acha que seus filmes vêm contribuindo para este mundo melhor?
Sandra Werneck - Acredito que o cinema possa ser usado com este objetivo. Ele é um instrumento e desta forma pode, sim, contribuir para um mundo melhor ao abordar temas polêmicos. O filme Guerra dos Meninos que fala sobre os jovens infratores, os adolescentes que moram nas ruas e os grupos de extermínio de crianças repercutiu bastante. Foi premiado em vários festivais no Brasil e no exterior. A polícia utilizou o filme para mostrar aos policiais como eles deveriam tratar as crianças infratoras. Já Profissão Criança trouxe para o debate a realidade do trabalho infantil, muitas vezes desconsiderada, deixada de lado pela sociedade. O menino que cortava cana, por exemplo, voltou para a escola.
RIO MÍDIA - É importante que as crianças e os adolescentes se vejam representados no cinema?
Sandra Werneck - É fundamental. As crianças precisam se ver na tela do jeito que realmente elas são. Isto contribui para o seu crescimento, para sua formação e até mesmo para a solução de muitos problemas por que passam. Além disso, não há uma produção cinematográfica qualitativa dirigida às crianças. Há muitos filmes europeus, mas brasileiros são pouquíssimos. As crianças e os adolescentes precisam se nutrir deste mundo da fantasia também.
RIO MÍDIA - Como é o bastidor da produção de um documentário cujos protagonistas são crianças e adolescentes?
Sandra Werneck - Qualquer documentário exige muita atenção, determinação e paciência. Você não domina a realidade. Você tem que esperar que ela aconteça para poder registrar. Lógico que trabalhar com crianças e adolescentes, seja em um documentário ou em uma obra de ficção, requer cuidados redobrados e muito, muito carinho, principalmente quando nos deparamos com situações extremas: um menino de rua que está faminto, por exemplo. Temos que parar tudo, dar carinho e comida.
RIO MÍDIA - Deve ser muito difícil não se envolver com as histórias destas crianças?
Sandra Werneck - Com certeza. Cada filme é um parto, uma nova sensação, uma nova entrega. Todas as histórias mexem muito comigo. Vivencio cada momento, cada história. Mas todos estes filmes, sem exceção, me ensinaram muito, me ensinaram questões ligadas à ética, à justiça e à solidariedade.
RIO MÍDIA - O que você pretende retratar no seu próximo documentário, Meninas grávidas?
Sandra Werneck - Quero entender que mundo é este, onde cada vez mais cedo as meninas estão se tornando mães. A idéia é acompanhar durante nove meses a gravidez de meninas brasileiras de algumas regiões do país e de diferentes extratos sociais. Estava com vontade de voltar a fazer documentários e surgiu esta idéia. Estamos trabalhando na pesquisa do tema. Trata-se de um assunto delicado. Precisamos, portanto, de um bom assessoramento. Formamos uma rede de aproximadamente 100 pessoas que estão trabalhando em torno deste assunto. Nosso objetivo é estrear o filme em 2006. Estamos procurando também meninas grávidas na faixa etária de 10 a 14 anos. Se os leitores do RIO MÍDIA tiverem informações sobre o tema e conhecerem meninas grávidas nesta faixa etária, podem entrar em contato conosco pelo e-mail: sandrawerneck@uol.com.br. Será uma ajuda valiosa.
Texto - Marcus Tavares
Foto - Divulgação
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