"A vida é o risco, sem o qual não vale a pena viver."
Clarice Lispector
Professores continuam em greve na rede estadual em São Paulo. E ainda que a greve não atinja 100% da rede, ela é significativa (basta ver a reportagem de ontem, do Agora). Mas poderia ser muito mais. E demorar muito menos tempo. Bastasse que os nossos profissionais da Educação, em sua maior parte, não tivesse uma cabeça tão pequena, fechada, conservadora. E não olhasse tanto para o umbigo.
Minha tamanha revolta e frustração acontece devido a uma situação quase esquisofrênica. Na semana passada, paramos as aulas na minha escola na quinta e sexta-feira. Fomos para a Paulista. Ajudamos a parar o maior centro financeiro de São Paulo. Voltamos motivados: estamos mobilizados! E nesta semana, parece que nada aconteceu. Não se discutiu sobre a continuidade da Greve, paralisação. Medo, desconfiança. Pelo contrário, ontem, quando fui tentar puxar papo: "Gente, quem vai parar amanhã?", eu ouvi apenas isso: silêncio.
Os motivos são vários. Todos ouvidos da boca de professores diferentes:
1) "Eu quero é trabalho, não quero saber de salário." - Bom, eu comentei com essa colega docente que, pra ter trabalho, basta ser escravo. Como não sou, sou um trabalhador, qualificado, cumpro com minhas obrigações e faço o meu trabalho dignamente, eu quero saber de salário, sim! Salário justo, digno. Mas que papo é esse?!?
2) "Vão descontar o bônus, o salário" - E daí. Que descontem. No prejuízo eu já estou. Ganhando pouco, atrasando tudo, trabalhando muito. Será que esse povo só sabe olhar pro umbigo? Daí, eu fico pensando: o que seria do nosso mundo hoje em dia se Chico Mendes, Guevara, Gandhi, Olga Benário, Luther King e tantos outros não tivessem feito o que fizeram. Não tivessem se arriscado, como fizeram. E deveriam ter muitas preocupações: família, filhos, amigos, contas pra pagar. E tinham muito a perder também: todos pagaram seus sonhos com a vida. E ninguém aqui está pedindo isso.
3) "Se todos pararem, eu paro". - Então, não vamos parar nunca, cara-pálida. Pois a unanimidade é burra, já disse Nelson Rodrigues, e nunca - infelizmente - que todos vão parar. Isso, na verdade, é pura covardia. Fica um jogando a responsabilidade do parar para o outro, e ninguém toma atitude.
Bom, eu sei de mim. Eu parei. E se a Greve tiver continuidade hoje, continuarei parado, na próxima semana. Ainda que seja sozinho. Ainda que pareça estúpido, e É. Mas o que não farei é compactuar com a mediocridade da postura de muitos de meus colegas. Não. Chega. Está na hora de cortar o cordão umbilical.
O triste nesta história, além do esvaziamento do movimento, ao menos por parte dos professores da minha unidade escolar, é que, fico pensando: fala-se tanto que os jovens precisam ser mais ousados, ocupar as ruas, despertarem seus espíritos críticos e, que exemplo nós educadores estamos dando? Com tamanha postura de submissão, comodismo, bunda-molismo? Como exigir algo sem se comprometer com isso? Sem servir de exemplo? Impossível.
Mentes conservadoras não despertam espíritos críticos.
E da cabeça, não me sai uma frase de Mohandas Gandhi:
"Nós devemos SER a mudança que desejamos VER no mundo".
Muitos profissionais da educação querem ser NADA, comprometimento com NADA. Não podem esperar, TUDO. E se NADA fazem, não podem reclamar de TUDO. Devem se contentar em ser apenas mais um, talvez sem-futuro.
Como não quero me misturar, hoje a tarde eu vou pintar a minha cara e vou pra rua batucar. Gritar, apitar. A poesia mostrar. Afinal, já disse o cachorro-louco Leminsky
"en la lucha de classes
todas las armas son buenas
piedras,
noches,
poemas"
Hoje. 14hs, Av. Paulista, Vão LIVRE do MASP. Eu quero é botar meu bloco na Rua! E vai ser lá.
De aqui, de dentro da guerra,
Rodrigo Ciríaco
Professor de História - Estado SP
www.efeito-colateral.blogspot.com
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