Infância Urgente

quinta-feira, 18 de junho de 2009

País rico, povo pobre

Quem nasceu para Zé Teixeira nunca chega a Clóvis Rossi. Mesmo assim vou me atrever a comentar uma notícia dada ontem, em Davos, na Suíça.

O banco de investimento Goldman Sachs manteve a previsão de que em 2050 o Brasil será a quinta maior economia do mundo.

Bella roba, como diria meu avô, pois esse importante lugar no pódio econômico mundial se dará devido à riqueza total do País, não à sua renda per capita.

Pensei nisso nesta terça-feira, ao passar pela Avenida Ipiranga, perto da esquina com a São João, quando vi o menino da foto ao lado dormindo em frente à agência central do Bradesco, banco que, apesar da crise, teve lucro de R$ 7,6 bi, em 2008. É o retrato do Brasil.

Se nada for feito para mudar essa paisagem, daqui a quatro décadas seremos um dos países mais ricos do mundo; mas o povo continuará entre os mais pobres.

De nada adiantará termos um PIB maior do que o do Japão, por exemplo, se em nossas cidades os bairros nobres continuarem a ser ilhas de luxo no meio de oceanos de favelas.

O desafio será conciliar a competitividade econômica com uma melhor qualidade de vida para os trabalhadores que, no final das contas, produzem a riqueza nacional. Não tenho a menor ideia de como poderemos resolver essa equação, pois em matéria de economia meu talento não vai além das quatro operações aritméticas - mesmo assim, à queima-roupa, ainda tropeço no sete vezes oito.

Só sei que os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) tem baseado seu crescimento em cima da mão-de-obra barata ofertada pelos seus excessos populacionais. Essa é uma conta simples: quanto maior a oferta de mão-de-obra, menor é o salário; quanto menor o salário, maior a competitividade.

Lembro que no início da década de 70, a Inglaterra era uma das maiores potências do mundo. Seus trabalhadores, porém, começaram a reivindicar melhores condições de vida. Fizeram greves, exigiram salários maiores, menos horas de trabalho, enfim, uma sucessão de reivindicações que acabaram por tornar os produtos ingleses menos competitivos.

O país ficou menos rico, mas os ingleses passaram a ter mais teatros, mais parques, mais bibliotecas e muito mais tempo para viajar pelo mundo afora. Essa tendência repetiu-se na maioria dos países europeus, que conseguiram conciliar a riqueza nacional com uma qualidade de vida invejável de seus trabalhadores.

É bom lembrar que na Europa Ocidental nunca houve um país socialista. Nos últimos tempos, aliás, grande parte de seus governantes tem sido de direita.

Achei conveniente fazer essa observação para que ninguém me chame de comunista - ou esquerdopata, como gentilmente me qualifica minha fiel leitora Tereza.

do Blog: Escuta Zé http://escutaze.blog.uol.com.br/

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