De acordo com o Mapa da Violência 2006, “é possível observar que, com uma taxa global de 27 homicídios por 100 mil habitantes no ano 2004, o Brasil se localiza entre os países com as maiores taxas de homicídios entre os 84 países do mundo”. Segundo dados do IBGE de 2002, o número de crianças e adolescentes assassinados no Brasil é de 9,15 para cada 100 mil, o que corresponde a cerca de 16 homicídios por dia de pessoas situadas na faixa dos 0 aos 18 anos.
O número alarmante de assassinatos de crianças e adolescentes registrados diariamente no país motivou a Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced) a realizar uma campanha, chamando atenção da sociedade para a gravidade do problema. De acordo com o articulador da Anced, Frans Kranen, o intuito era tentar fazer alguma coisa para mudar esta realidade, para chamar as pessoas para a ação, tirando-as da indiferença. “Foi um grito desesperado. (Este) É um tema que me desespera. É incrível como se mata no Brasil. Se mata como um país em guerra”, declarou. A concretização da idéia aconteceu em 2007, quando das comemorações pelo aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente. “No aniversário de 17 anos do ECA havia um monte de comemorações e eu vi isso com um duplo olhar: reconheço os avanços, mas, por outro lado, nos momentos de comemoração, são esquecidas as violações. Para chamar atenção de que ainda tem muito trabalho a se fazer, comecei a mandar, por um período de um ano, sete dias por semana, uma notícia de um caso de assassinato de criança e adolescente, com um pequeno comentário, para a lista ( de e-mails) da Anced”.
A partir das manifestações recebidas após o envio sistemático dos e-mails, foi surgindo, na Associação, a idéia de reunir o conteúdo dos “Para Ler – in memoriam”, como foi chamada a iniciativa, em um livro. A publicação conta com relatos a partir de matérias retiradas de jornais, com um grupo focal de 366 crianças e adolescentes, de todas as idades, de todos os Estados do Brasil, que representam as milhares de crianças e adolescentes vítimas de homicídio doloso no período 14 julho 2007 a 13 julho 2008, data de comemoração dos 18 anos do Estatuto.
Seis meses depois, Hélder de Oliveira, artista plástico e coordenador do Cedeca Interlagos, começou a produzir quadros inspirados nas matérias e Frans, a compor músicas em memória das crianças assassinadas. O resultado da junção de todas essas idéias é a Campanha Para Ler, Ver, Ouvir e Agir. Através de um passeio pelos sentidos, o livro, as 16 músicas e as 19 telas pretendem provocar sensações e convidar todos e todas à ação. “Falar de tanta violência, denunciá-la, indignar-se com ela, com certeza é a tônica desta Campanha. Mas também queremos falar, através da Campanha e da Exposição Itinerante, que há um mundo que pulsa, pensa, sorri, dança, é fraterno, lúdico e que sobrevive em meio a esta violência”, afirma Frans. Os quadros revelam a dor, mas também mostram a periferia que muitos desconhecem. Longe dos estereótipos que só remetem o lugar à violência, o artista revela imagens do cotidiano da s periferias das grandes cidades, com sua gente, a alegria das crianças brincando, a solidariedade.
A campanha percorrerá o país durante 1 ano e meio, promovendo debates e levando a exposição pelos estados nos quais a Anced tem Cedecas filiados: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, Brasília, Fortaleza, Salvador, Maceió, Recife, Natal, São Luis, Manaus, Porto Velho e Belém. Em cada um desses lugares, os Centros de Defesa, articulados com parceiros, irão incorporando novas idéias e modos de fazer à campanha, de acordo com as demandas locais. O lançamento nacional ocorrerá em Fortaleza, no dia 10 de junho, às 16h, no teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, com exposição, apresentação musical e de teatro, dentre outras atividades. A exposição ficará em cartaz de 10 a 30 de junho, no espaço Multiuso do Centro Cultural. Além da mostra, os adolescentes e jovens envolvidos na Campanha irão realizar intervenções e performances por toda a cidade, levando a discussão para além dos espaços de exibição.
Em paralelo a essas atividades, a Anced realizará o acompanhamento de pelo menos um caso de homicídio relatado em cada Estado envolvido, buscando contribuir, assim, no combate à impunidade que geralmente impera nestes casos.
Serviço:
Lançamento da Campanha "Para Ler, Ver, Ouvir e Agir"
Quando? Dia 10 de junho, às 16h
Onde? No Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
A exposição ficará em exibição de 10 a 30 de junho, no Espaço Multiuso.
Programação:
16h – Mesa redonda sobre homicídios de crianças e adolescentes no Brasil e no Ceará com a participação da Anced, Cedeca Ceará, Rede OPA e representantes dos governos federal, estadual e municipal
17h15min – Apresentação da cena de teatro-fórum comunidade das flores, com integrantes da Rede Opa e direção de Vanessia Gomes.
17h45min – Apresentação do CD In Memoriam, por Frans van Kranen e Banda
18h30min – Abertura da exposição de Francisco Helder da Silva Oliveira e coquetel.
Tanto o lançamento quanto a exposição têm entrada franca. A exposição permanecerá em cartaz no espaço multiuso até o dia 30 de junho.
Para mais informações: (85)32524202 (Cedeca Ceará) / www.cedecaceara.org.br / cedeca@cedecaceara.org.br
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