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quarta-feira, 10 de junho de 2009

Visita de arquitetos acaba em protesto

Grupo de manifestantes cobrava moradias para desapropriados

Bruno Paes Manso
O skyline de barracos contrastando com edifícios luxuosos de uma piscina por andar é uma imagem que correu o mundo e tornou Paraisópolis, na zona sul, bairro incrustado na região do Morumbi, conhecida internacionalmente - principalmente entre urbanistas.

Foi um dos temas do Urban Age, congresso mundial das grandes cidades ocorrido em São Paulo no ano passado, e ganhará destaque na 4ª Bienal de Arquitetura em Roterdã, na Holanda. Entre setembro e janeiro, o projeto de reurbanização do bairro, liderado pela Secretaria Municipal de Habitação, em parceria com escritórios brasileiros e estrangeiros de arquitetura, terá estande no evento.

Na tarde de ontem, um grupo formado pelo diretor da Bienal, George Brugmans, e por dois curadores, todos da Holanda, além de oito arquitetos, a maioria estrangeiros contratados para trabalhar na área, circularam pela região e testemunharam o tamanho do desafio que terão pela frente.

A visita caminhava bem nas duas primeiras paradas: um conjunto habitacional já em obras e o canteiro da Perimetral, avenida que vai corta o bairro e servir de alternativa à Giovanni Gronchi.

Na terceira parada, na Grota, vale ladeado por barrancos repletos de casas, uma das regiões de urbanização mais precária de Paraisópolis, a situação começou a esquentar. O subcurador da Bienal, Rainer Hehl, acompanhado do arquiteto venezuelano Alfredo Brillembourg, da Urban Think Tank, foram entrando no espaço seguidos pelo grupo de estrangeiros com câmeras em punho.

Em cima dos morros, jovens começaram a se juntar e aos gritos avisaram que parassem com as fotos. "Vai embora, bando de ricos", gritavam. Os visitantes só compreenderam que não eram bem-vindos quando pedras passaram a ser atiradas contra eles. Ninguém se feriu.

Na hora que o grupo estava dentro do micro-ônibus para sair da Grota, cerca de 50 moradores do bairro com a camisa do grupo local Paraisópolis Exige Respeito! chegaram com cartazes cobrando moradias para os desapropriados. Com o veículo estancado em uma rua estreita, instalou-se um princípio de pânico entre o grupo. "Vamos chamar a polícia. Ninguém sai do ônibus", sugeriu um integrante da Prefeitura.

O venezuelano Brillembourg tomou a iniciativa. Foi conversar com os moradores para explicar o projeto. "Somos arquitetos revolucionários que vão fazer uma obra que vai agradar a todos os moradores", disse. Marcondes Luz, da União de Defesa da Moradia, reclamou que moradores antigos, com direito à casa, estão sendo despejados em troca de R$ 5 mil e de ameaças.

A situação se acalmou depois que Elizabete França, superintendente de Habitação Popular, confirmou para amanhã reunião em Paraisópolis para ouvir as reivindicações e apresentar o projeto. "Protestos como esses são normais em processos de urbanização", minimizou Brugmans, diretor da Bienal.



http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0906200911.htm

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