O explorador é sempre visto como o ´outro´, daí o morador local não se identificar como tal, culpando o turista
O autor de violência sexual — agressor ou explorador — não possui um perfil e nem tampouco uma classe social definidos. Muito menos procedência. Ele pode ser o estrangeiro que chega aqui e, apoiado em rede que inclui do taxista ao dono do hotel, explora crianças e adolescentes, como mostra estudo realizado pela Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) identificando que metade (50,7%) dos turistas estrangeiros que chegam aqui praticam este crime. O levantamento foi realizado entre os meses de janeiro a agosto de 2008, nos corredores turísticos da Cidade.
Outro estudo, “Os sete sentimentos capitais: exploração sexual comercial de crianças e adolescentes”, transformado em livro, aponta que 54,9% das violações são praticadas por moradores locais. Germana Vieira, coordenadora da Rede Aquarela, responsável pela política de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes no Município, esclarece: “O explorador não é apenas o gringo”.
Respaldada na pesquisa da Fundação da Criança e da Família Cidadão (Funci), a promotora de Justiça Edna Lopes Costa da Matta, da 12ªCriminal admite que “é mais fácil colocar a culpa no outro”, se referindo ao turista estrangeiro.
Isso não significa negar uma realidade, afirmando que existem, sim, os estrangeiros fazendo parte da teia que permeia o fenômeno, constatado a olho nu. E não são apenas nos corredores turísticos que crianças e adolescentes “viram produto”. Para a promotora, o combate ao crime não pode ser resumido apenas à punição dos criminosos. “A rede de proteção tem que atuar, porque crianças e adolescentes não sabem discernir o que é crime”.
Edna Lopes afirma que não existe uma estatística precisa sobre estes tipos de crimes. No entanto admite que “temos mais casos de abusos”, completando que o percentual de exploração é pequeno. Uma das justificativas é a questão econômica. As vítimas são adolescentes e elas negam o crime, protegendo assim o explorador.
“Como estão ali para ganhar dinheiro, não denunciam os exploradores. Normalmente, a vítima nega”. Muitas dizem: “Não fui explorada, ele é que foi otário e pagou”. Só que nem elas e nem a sociedade atentam que a exploração sexual é um crime contra a dignidade humana.
Porém, a vítima não vê a questão desta forma. “Elas ganham dinheiro”. O explorador tanto pode estar nas BRs, na Beira-Mar, nas avenidas, na esquina de sua casa, como o dono da bodega. Muitas são exploradas para comprar crack.
IRACEMA SALES
Repórter
"É mais fácil colocar a culpa no ´outro´, o turista estrangeiro. Ele também faz parte da rede de exploração"
Edna Lopes Costa da Matta
Promotora de Justiça
Fonte: Diário do Nordeste
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