Infância Urgente

segunda-feira, 23 de março de 2009

Redes de pedofilia são raras, afirma psiquiatra dos EUA

Autor de dois livros sobre o tema, Gene G. Abel diz que prática tende a não acabar, mas que o pedófilo pode ser tratado

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Pesquisador do tema há mais de 40 anos, o psiquiatra norte-americano Gene G. Abel acredita que a organização de redes para a prática de pedofilia, como a que é investigada em Catanduva (SP), é algo raro e que o aliciador de crianças para fins sexuais tende a agir sozinho.
Autor de dois livros e de mais de cem artigos científicos sobre o assunto, Abel diz que, embora não seja o único fator, cerca de 1/3 dos pedófilos já foram vítimas de abuso e que a pedofilia tende a continuar existindo.
Leia a entrevista concedida por telefone de Atlanta, nos EUA.



FOLHA- O quão comum é o abuso sexual infantil entre pessoas de uma mesma comunidade?
GENE G. ABEL - Não é surpreendente. Abuso sexual infantil acontece quando a criança está próxima aos molestadores. A maioria pensa que o abuso ocorre quase sempre dentro da família, mas não é o caso; um bom número de pessoas sofre abuso por parte de amigos mais velhos ou adultos. Apenas 10% são praticados por estranhos.

FOLHA- Pedófilos em geral atuam em redes ou sozinhos?
ABEL - Alguns fazem parte de grupos que trocam fotografias pornográficas, por exemplo. Mas organizar uma rede para abusar de crianças é algo raro. É mais comum um parceiro do molestador, como sua mulher, ajudar a atrair crianças para satisfazer o outro, sem se interessar pessoalmente por isso.

FOLHA- Em Catanduva (SP), as crianças envolvidas têm de 6 a 12 anos. Há uma idade mais comum?
ABEL - Nos EUA, a incidência de abuso contra crianças de 14 a 17 anos é tão alta quanto a de abusos de crianças menores. Ao mesmo tempo, a idade do molestador médio é 14 anos. A pedofilia começa muito cedo.

FOLHA- O que leva uma pessoa a desenvolver interesse por crianças?
ABEL - Pedófilos têm interesse sexual por adultos também. Cerca de 1/3 dos pedófilos foram vítimas de abuso, mas há outros fatores. Quanto mais jovem é a vítima, mas fácil é que ela pratique o abuso no futuro.
Quanto mais o molestador for alguém que a vítima admira, maior a probabilidade de ela desenvolver interesse por crianças. Também parece contar o quanto o abuso envolveu "sedução". Já sofrer abuso por parte de um estranho não está associado ao desenvolvimento de tendências para a pedofilia.
Outro terço dos casos é devido à fixação em experiências sexuais ocorridas na infância. Se um indivíduo tem uma experiência precoce, pode desenvolver interesse sexual pelo uso constante de fantasias que envolvem crianças. Quanto mais usam essas fantasias quando estão excitados sexualmente, mais forte o interesse se torna.

FOLHA- Há um padrão de atuação?
ABEL - A maioria quer acariciar crianças ou se envolver em penetração genital, mas raramente há desejo de machucar a vítima. O curioso sobre molestadores é que são muito bem adaptados para se relacionar com crianças. Sabem do que elas gostam e usam isso.

FOLHA- Dá para curar um pedófilo?
ABEL - O interesse particular não pode ser curado, mas é falso pensar que eles não podem ser tratados. Já tratei de cerca de 350 molestadores condenados e a taxa de reincidência é de 4%. Ensinamos a não se colocarem em situações de risco, a bloquear e reduzir o interesse em crianças.

FOLHA- É realista almejar pôr fim ao abuso sexual infantil?
ABEL - O abuso de crianças sempre vai continuar. Indivíduos sempre vão gravitar em torno de quem é mais vulnerável a experiências sexuais.

FOLHA- Nos 40 anos em que o sr. estuda o tema, houve grandes mudanças de tendências ou padrões?
ABEL - Abuso sexual infantil existe há muito tempo. A atenção começou a crescer nos anos 1970, com movimentos antiestupro, liderados por mulheres. Quando foram organizados centros especiais, mais pessoas vieram a público contar que sofreram abuso na infância. Agora há forte ênfase no abuso sexual infantil, que é muito mais comum do que o estupro de mulheres adultas. E a internet se tornou um problema real.

Fonte:FSP

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