Dados do Ministério da Saúde indicam que óbitos de crianças com até um ano de idade seriam reduzidos com atendimento melhor à gestante e ao recém-nascido
Morte é injustificável quando falta ação adequada de diagnóstico, tratamento, imunização e combate à desnutrição da criança
ANGELA PINHO
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sete de cada dez mortes de bebês no Brasil poderiam ter sido evitadas por um atendimento melhor à mãe e à criança, segundo estudo realizado pelo Ministério da Saúde.
Depois de analisar as declarações de óbito de 48.332 bebês registradas em 2006, o estudo do governo federal concluiu que pelo menos 15.224 (31,5%) poderiam estar vivos se tivessem sido bem atendidos nos primeiros dias de vida.
Somado a outros fatores, como cuidados à gestante, no parto, em diagnósticos e tratamento e ações de saúde, esse percentual sobe para 71%.
A mortalidade de crianças até um ano está em queda no país desde a década de 1980. Mas ainda é alta se comparada a de outros países. No Brasil, para cada mil crianças nascidas vivas em 2007, 19,3 morreram antes do primeiro aniversário. Índice maior do que na Argentina (15), EUA (7) e Cuba (5).
Os dados do estudo nacional foram apresentados pelo ministro José Gomes Temporão a governadores do Nordeste e da Amazônia Legal em reunião reservada no Palácio do Planalto em janeiro. As duas regiões concentram cerca de metade da mortalidade infantil do país, com apenas 13% da população total brasileira.
Os cuidados nas primeiras horas significam dar medicamentos adequados aos prematuros, como o sulfactante, usado para expandir o pulmão, e garantir atendimento especializado aos bebês com problemas de saúde -cerca de 10%, segundo a área técnica de saúde da criança e aleitamento materno do Ministério da Saúde.
A coordenadora Elsa Giugliani reconhece, porém, que em diversas maternidades brasileiras há uma deficiência de leitos de UTI neonatal e que em outras o equipamento é bom, mas não há especialistas.
A possibilidade de um bebê nascer com problemas de saúde diminui quando a gravidez tem um acompanhamento adequado. Um diagnóstico precoce de infecção urinária na mãe, por exemplo, pode impedir o nascimento de uma criança prematura, lembra Jucille Meneses, da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Entretanto, a falta de um atendimento de qualidade durante a gestação é justamente a segunda maior causa evitável de morte de bebês -poderia ter poupado 13% das vidas, concluiu o estudo do ministério.
Na lista das causas de óbitos injustificáveis, seguem, em ordem, ações adequadas de diagnóstico, tratamento, imunização e ações preventivas e de promoção à saúde, como combate à desnutrição.
São consideradas mortes inevitáveis aquelas provocadas por doença sem cura ou por má formação incompatível com a vida, como a anencefalia.
A representante do Ministério da Saúde reconhece que, em muitos locais, faltam profissionais capacitados e/ou a estrutura é precária, resultando em maternidades superlotadas.
Ela afirma, que não se pode atribuir a responsabilidade pelas mortes evitáveis apenas ao sistema de saúde. Segundo ela, o serviço de saúde pode até deixar de salvar um bebê que nasce com baixo peso, mas ele talvez não tivesse esse problema se a mãe fosse bem nutrida.
Antônio Prates Caldeira, doutor pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e professor da Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros), concorda que há diversos fatores em jogo, mas diz que há, sim, uma corresponsabilidade do sistema de saúde. "Óbitos evitáveis podem ser devido a um sistema mal organizado e à falta de comprometimento de alguns profissionais", diz ele, autor de pesquisa sobre causas evitáveis da mortalidade infantil na região de Belo Horizonte.
"Um sistema de saúde que não proporciona atendimento adequado e acesso para a gestantes fazer pré-natal também tem uma parcela de culpa."
Fonte: FSP
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