Mais de 500 pessoas participaram da IX Assembléia do Povo Xukuru, realizada entre os dias 17 e 20 de maio, na Aldeia Capim de Planta, Pernambuco. Com o tema “Fortalecer a organização para enfrentar a criminalização” , a Assembléia contou com a presença de representantes de 23 aldeias do povo Xukuru, povos indígenas Truká, Kambiwá, Kapinawá, Pankararu de Pernambuco; Potiguara da Paraíba, e Anacé do Ceará, além da grande presença de não-índios aliados, de universidades, entidades de pesquisa e outras organizações de apoio. “O que me impressionou nesta assembléia foi a grande quantidade de aliados presentes, se colocando a disposição na busca por soluções para os problemas enfrentados pelos Xukuru e por todos os povos indígenas do Brasil, de forma geral”, relata Eden Magalhães, secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que participou do encontro.
No primeiro dia de assembléia foi feita uma mesa de discussão sobre a luta do povo e os desafios da criminalização. Lideranças indígenas, representantes do Cimi e advogados fizeram parte da mesa, colocando historicamente as perseguições que o povo Xukuru vem sofrendo, o por quê destas perseguições e explicitando de que forma o povo pode se fortalecer para enfrentá-las. O assessor jurídico do Cimi, Paulo Machado Guimarães, ressaltou a importância dos povos se articularem. “O desafio é se articular para garantir a vitória. Se não estiverem unidos e informados não vão garantir a superação dos desafios. Depois que as terras são demarcadas os problemas ainda continuam existindo”. Dona Zenilda, liderança Xukuru, traduziu o sentimento de seu povo. “Nós vamos discutir nossas lutas com alegria, porque as forças encantadas nos ajudarão. Nós somos persistentes, não é uma minoria que vai nos fazer desistir. Nós não vamos desistir de dar continuidade porque nossas crianças e jovens eles precisam viver nessa terra, com seus usos e costumes”, ressaltou. Em seguida cantou: “Nós não derrubamos o sangue de ninguém, tivemos nosso sangue derrubado! Quem nasceu para viver lutando não vai morrer de braços cruzados!”.
Depois dos testemunhos, foram divididos grupos para se trabalhar o tema da criminalização em diversos aspectos, como saúde, educação, lideranças e aliados. Ao final, cada grupo elaborou propostas, perspectivas de ação e datas. Várias propostas já começam a ser colocadas em prática já no mês de junho deste ano, como a reunião do Fórum de Apoio aos Povos Indígenas de Pernambuco, que deverá discutir atos públicos, seminários e debates na TV Universitária para explicitar a questão Xukuru.
Na carta elaborada pela assembléia, o povo explicita suas preocupações e a necessidade de alianças na busca por soluções. “Estamos indignados e queremos dar um basta a essa situação! Exigimos que deixem nosso povo em paz! Queremos que todos saibam que não ficaremos calados. Estamos denunciando essa trama cruel e absurda contra nosso povo em Pernambuco, no Brasil e em âmbito internacional. Mesmo sabendo que aqueles que estão contra nosso povo detêm o poder político e econômico em nosso país, nós não temos medo e não estamos sós. Contamos com a força de Tamain e Tupã, os encantos e a natureza sagrada, temos também o apoio de aliados, que conhecem profundamente essa trama diabólica e cruel arquitetada contra o povo Xukuru”, diz o texto.
Apesar de terem quase toda sua terra tradicional em suas mãos, os Xukuru continuam sofrendo perseguições, com lideranças sendo criminalizadas no intuito de enfraquecer a luta do povo. Vivenciaram diversos assassinatos de lideranças, agora enfrentam a ofensiva da criminalização. Atualmente, há 43 pessoas sendo processadas. Desse total, 26 já foram condenadas, duas cumprem prisão preventiva e outras aguardam julgamento.
fonte: Cimi
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