Infância Urgente

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Assistente Social: proteção dos direitos da população

Daniel Limas

Ao pensar no que faz um assistente social, qual a primeira ideia que lhe passa pela cabeça? Se você pensou em ajuda, saiba que esta é uma visão errada para esta profissão, que busca acima de tudo garantir e proteger os direitos da população. A começar pelo papel da profissão, que não é compreendido corretamente pela sociedade, há muitas dificuldades e lutas pelas quais o Assistente Social passa.

Conheça um pouco mais sobre esta profissão, que encontra um mercado de trabalho bastante amplo e um campo de atuação imenso, infelizmente. Afinal, o Brasil é um país repleto de injustiças e desigualdades sociais, objeto de luta destes profissionais. Por ser uma carreira com muitas possibilidades de atuação, o assistente social pode trabalhar tanto na área pública quanto dentro de empresas.

No setor público este profissional atua como executor ou como elaborador de políticas sociais nos mais diversos campos: saúde, família, idosos, crianças e adolescentes, meio ambiente, situações de risco, ou qualquer área que necessite de soluções para problemas sociais. Nas empresas e indústrias, por exemplo, pode atuar no departamento de Recursos Humanos, promovendo ganhos na qualidade de vida e do ambiente de trabalho dos funcionários.

“Hoje em dia, todos sabem o quanto é importante para as empresas e funcionários o desenvolvimento de programas de qualidade de vida. É mais que provado que melhorar as condições de saúde e trabalho aumenta a produtividade das empresas”, explica Adriana Giaqueto, professora e coordenadora do conselho dos cursos de graduação em Serviço Social da UNESP. Ela explica que as principais ferramentas para propor melhorias nas empresas são entrevistas individuais com os funcionários, visitas domiciliares, reuniões e dinâmicas de grupo.

Entender as necessidades dos funcionários é tarefa das mais simples para estes profissionais. No entanto, implementar as mudanças é um grande obstáculo. Muitos empregados, inclusive, podem não confiar em seu trabalho, pois reclamar das condições deste pode não ser visto com bons olhos por muitas empresas. Para esclarecer esse impasse, há um moderno código de ética da profissão, a Lei nº 8.662, de 07 de junho de 1993, que estabelece compromissos importantes. “É ele que ilumina a mediação das relações entre empregado e empregador”, aponta Áurea Fuziwara, presidente do Conselho Regional de Serviço Social (Cress/SP) .

“Nosso compromisso é sempre garantir e verificar alternativas para viabilizar os direitos das pessoas. Não devemos acolher uma determinação institucional se vier a ferir algum direito do cidadão. Esse é um dever ético do assistente social”, explica Áurea. No entanto, quando não há descumprimento de direito, a missão fica mais complicada e o profissional precisa utilizar de muitas análises técnicas, além do poder de negociação. “Defendemos a avaliação das vantagens para ambas as partes, nos respaldando com informações técnicas. Não tratamos com romantismo essa relação. Há todo um conjunto de conhecimentos de uma equipe de diversos profissionais que sinalizam o que pode ser mais vantajoso para todas as partes”, ressalta Áurea.

Além do embasamento técnico, ser um bom negociador é fundamental para desempenhar bem o papel de assistente social. “É preciso ter habilidade para se comunicar com diversos públicos. Cada pessoa tem uma linguagem diferente e ela é um dos nossos principais instrumentos de trabalho. É importante desenvolver uma grande capacidade de argumentação. Ser um bom mediador e negociador é fundamental”, aponta a professora.

Mas, para Adriana há outras características importantíssimas para este profissional: identificação com as causas sociais e ser uma pessoa crítica. “Em primeiro lugar, é preciso ter indignação com a desigualdade social. As outras características são desenvolvidas ao longo do curso e da vida profissional”, analisa a professora. Sobre ser crítico, ela explica que criticar apenas não é suficiente. “É preciso saber propor soluções.”

Além das técnicas, um desses aprendizados que só ocorrem com a maturidade é o controle emocional. Certamente, isso é algo bastante complexo, porque esses profissionais são, acima de tudo, seres humanos. “É claro que podemos nos sensibilizar mais diante de algumas situações. Mas esse controle vai sendo construído desde a graduação. O trabalho feito com metodologia e ciência permite o distanciamento necessário. Apesar de não ser fácil”, esclarece Áurea.

Mudanças

Ainda mal compreendida pela sociedade, a profissão passa por um momento de estruturação e consolidação das oportunidades de trabalho. Pode ser considerada uma profissão do futuro, pois trata de relações sociais e, infelizmente, o Brasil tem muitos desafios. E, à medida que a sociedade entender seu papel, novas vagas surgirão.

Para ajudar nessa compreensão, o serviço social passou por grandes mudanças na década de 70. “Nesse período, mudamos o nosso modo de enxergar e atuar. E ainda buscamos esses novos caminhos”, explica Adriana se referindo à principal mudança: na linha ideológica de trabalho. Antes de 70, o trabalho era pautado segundo a ótica funcionalista e positivista. “Acreditávamos que a sociedade era um todo orgânico e que vivia em plena harmonia. As pessoas que tinham problemas sociais eram desajustadas e deviam se adaptar à sociedade”, explica.

“Com a mudança, passamos a entender que a população não é tão perfeita assim e devemos entender isso e lutar por algo melhor. Sabemos que há desigualdades e injustiças. Geralmente, o problema não é da pessoa, mas sim da sociedade que a excluiu. Portanto, não é a pessoa que deve se adaptar à sociedade, mas sim a sociedade à pessoa. E essa foi uma mudança radical de pensamento”, analisa Adriana ao se referir à linha dialética marxista hoje adotada pela profissão.

Outro erro comum é acreditar que o assistente social é um profissional que ajuda. Essa é uma visão que os próprios alunos recém-chegados às universidades carregam consigo. “Com o decorrer da formação, eles entendem que não adianta apenas ter vontade de ajudar. Mesmo porque o povo brasileiro é bastante solidário”, analisa a presidente do Conselho. “Ele passa a entender que é preciso reverter o quadro de exclusão e desigualdade, trabalhando para a emancipação das pessoas para que elas possam trilhar suas próprias histórias e experiências”, pontua.

“Nós do Conselho lutamos para desconstruir a ideia de que a nossa profissão é de senhoras que ajudam. Lutamos para acabar com a visão assistencialista, despolitizada e paternalista. Até porque entendemos que o assistencialismo é uma violação dos direitos humanos, pois coloca a pessoa em condição de sujeição”, esclarece Áurea. “Muita gente ainda confunde nossa profissão com a mocinha boazinha que presta caridade. Hoje, inclusive, vários homens já trabalham como assistentes sociais e estão contribuindo para desmistificar esse preconceito”, aponta Adriana Giaqueto.

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